O eremita invisível

Quem é você, estranho?

Apesar da minha mudança,
quem parece ter sofrido uma transformação é você
Mas, na realidade, eu estou apenas te vendo em essência,
pela primeira vez
Curioso, não é?

Resolvi observar as coisas por conta própria,
sem o auxílio da tua distorcida visão de mundo
E, assim como o incômodo sentido ao olhar diretamente
para a luz do sol, fui acometido por uma revelação
difícil de encarar:
Por muito tempo, cegamente, confiei em você, outro cego,
para guiar os meus passos
E, sob tal orientação, fui conduzido aos recantos mais
obscuros da ignorância
Eis a receita para o desastre

Hoje, eu te enxergo, mas não te reconheço
Quem é você?
Quem é este que, certa vez, julguei ser um semelhante?

Além disso, já não te compreendo mais, também
Você soa como um estrangeiro proferindo barbaridades,
mesmo estando, somente, tentando se comunicar comigo
E, Deus do céu, nas raras vezes que te entendo,
desejo profundamente ter nascido surdo,
só para poupar meus ouvidos de tamanhos absurdos

A despeito do muro de divergências que nos
separa e me instiga a, cada vez mais, me afastar de
você, de certo modo, ainda estou ligado a ti por meio
de queridas lembranças, de quando não éramos estranhos
um ao outro, que aquecem meu coração e, até mesmo,
abalam este crescente paredão entre nós
Recordações estas que não perduram perante a questão
sempre prevalente nos longos instantes gastos ao teu lado:
"Quem diabos é você?"

  • Autor: O eremita invisível (Offline Offline)
  • Publicado: 6 de Junho de 2023 19:41
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 5


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