POEMA SEM NOME

joaquim cesario de mello

 

E se em mim tudo desaparecer

meu nome

meu rosto

minha história

e meu sobrenome?

 

E se não mais souber quem sou

de onde vim

o que fiz

o que sonho 

e para onde vou?

 

E se em mim somente habitar

um branco mais branco que este branco

em que escrevo sobre minha inimaginável

e repentina suposta amnésia?

 

Será que eu bebi

cai da escada

sofri um acidente

ou bati com a cabeça

em alguma parede da realidade?

 

Como será não ter passado

nenhum futuro almejado

não saber de nada

não reconhecer meus pais

e nem a mim mesmo nos velhos retratos?

 

Que farei agora

depois que tudo me foi embora

neste corpo velho no espelho

cujo dono desconheço

como se chama

seu apelido

seu CPF

sua identidade

e seu endereço?

 

Talvez desaparecer em mim

seja uma forma de continuar a viver

carregando comigo pelo infinito

um oco profundo na alma

e uma completa esvaziada memória

 

Talvez morrer não seja acabar

mas deitar sobre si e se esquecer

 

Comentários +

Comentários3

  • Mariany A.N Dutra

    Profundas reflexões sobre o Ser!
    Muitas vezes nos preocupamos em deixar algum legado nesse mundo, criar memórias... e ao ler seu poema... Desperto sobre nossas fragilidades humanas, o quanto somos seres tão limitados.. em um piscar de olhos... tudo pode passar ou cair no esquecimento... efemeridade humana!

    • joaquim cesario de mello

      Grato por seu comentário interpretativo, bastante pertinente a ideia fundo do poema em si. Obrigado

    • Mariany A.N Dutra

      Profundas reflexões sobre o Ser!
      Muitas vezes nos preocupamos em deixar algum legado nesse mundo, criar memórias... e ao ler seu poema... Desperto sobre nossas fragilidades humanas, o quanto somos seres tão limitados.. em um piscar de olhos... tudo pode passar ou cair no esquecimento... efemeridade humana!

    • Maximiliano Skol

      Prezado Joaquim Cesário: "Talvez morrer não seja acabar
      mas deitar sobre si e se esquecer". Conclui-se que o seu poema possa ter um nome: Mal de Alzheimer. Muito bem elaborado no contexto dessa enfermidade perversa.
      Parabéns.
      Um forte abraço.



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