Seus medos não me pertencem

O eremita invisível

Seus medos são seus mesmo?
Já fez o teste de DNA para se certificar?
Vocês compartilham do mesmo sangue?
Eles são filhos legítimos ou bastardos de terceiros,
deixados aos seus cuidados, como fardos
passados de mão em mão até chegarem a você?

Ao tomá-los nos braços durante uma crise de choro,
você sente estar abraçando as dores
do fruto de outras pessoas?
Talvez, sem nem perceber, você adotou para si
problemas de outrem e agora proclama-os como seus também
Essa cruz não é sua
Por que continuar carregando-a?

Lembra quando ser sozinho não era um estorvo?
Nem consciência havia a respeito de tal condição
Não, você estava bastante ocupado gozando
da liberdade de ter todo o tempo e espaço exclusivos só pra ti,
como uma criancinha despreocupada com o amanhã,
brincando num playground feito
por Deus especialmente para você

Até que, num maldito dia, depois de ter sido
abandonado pela amada, um enviado de Satã
veio te apavorar com a terrível história
do homem que envelheceu sozinho
Nada mais foi o mesmo após este macabro evento
Você dormia assustado, tinha pesadelos
no qual se via totalmente solitário em seu leito de morte,
sem o amor de uma mulher e dos filhos
para facilitar a sua partida, acordava aos berros
do horripilante sonho e, logo em seguida, saía contando
a quem tivesse ouvidos sobre o angustiante conto que
te perturbava o sono
Neste momento, o inferno comemorava ao assistir
a sua paz de espírito ser drenada pela nova preocupação adquirida:
o medo da solidão
E este foi apenas o primeiro de muitos

Conselhos "bem-intencionados", mas não requisitados, dados a você,
e "despretensiosos" comentários jocosos acerca da sua vida,
somados a simples observação do drama vivido por pessoas próximas,
semearam em ti outros medos: medo da vergonha, da chacota, do fracasso,
da decepção, do conflito, da rejeição, da autenticidade e da autoimposição
Nenhum deles são verdadeiramente seus
Consegue ver agora?
Foram todos absorvidos a partir de fontes externas
Você não precisa deles
Jogue-os fora

  • Autor: O eremita invisível (Offline Offline)
  • Publicado: 2 de junho de 2023 18:17
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 8
Comentários +

Comentários2

  • Shmuel

    Nossa! Que texto impactante! Parece que dialoga com a gente! Muito bom!

    Abraços!

  • Maria dorta

    Realmente, ninguém deve dar valor a opinião alheia! É viver a vida,só ou acompanhado,vivendo plenamente seu agora,exercendo os dons humanos de generosidade com o próximo e ...perdoando,! Bravo pelo poema desabafo!



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