O domingo carrega uma melancolia única
Um fenômeno sem explicação lógica, mas
facilmente perceptível no decorrer do
dia e quase palpável durante a dramática
despedida do sol que sempre parece dar
seu adeus definitivo antes de nos deixar
à mercê da ditadura sem fim da noite fria

Tudo começa já ao despertar
Mal abro os olhos e um batalhão
de pensamentos e sentimentos,
escondidos a semana inteira por
trás da enxurrada de ocupações
rotineiras, aproveitam-se da serenidade
dominical para lançar contra mim
ataques ininterruptos
O objetivo deles é me vencer ainda na cama
Não posso dar a eles esse gostinho

Tomar banho, almoçar, ler um livro, conversar...
Atividades corriqueiras e banais
Mas há algo diferente no ar
Nenhuma novidade, mas, ainda assim, nada é o mesmo
Uma espécie de marasmo rege cada movimento, cada detalhe...
E como trilha sonora, bem distante, um sutil ruído branco,
característico deste dia tão peculiar, pode ser ouvido
pelos mais sensíveis

O domingo vai embora levando consigo
sua típica tristeza, mas não sem me fazer
deitar com a velha lembrancinha deixada
na minha cama: uma estranha sensação de
incompletude que logo desaparece quando
lembro da inquestionável vinda da segunda-feira,
o dia mundial do recomeço, iluminado por um
sol que jamais nos abandonará pra valer, apesar de qualquer coisa