Sou montanhês de dois
cajados,uma manta de lã,
uma meia de cabra;
não tenho parentes,
só espinhos.
Não que seja bravo,
sou montaria dos ventos,
e maino do sol.
Me ruivo ao rodopiar
ao forte sudeste;
tenho cabras leitosas,
e quando cai a noite
me fecho em abas.
Sou simples e rudimentar.
Não sou de fugir
mas tenho medo,
quando acordo,
pois é a majestade da montanha
que me desperta, e nasce a
festa interior do homem.
Os pásaros se rebuliçam,
as coisas se esticam,
a natureza se esfrega como
dois pombos apaixonados,
o sol é o primeiro a chegar
retirando lentamente a
noite de seu lugar e
é o último a nos deixar.
Não conheço vales, nem campos,
o que vejo aqui de cima
é algum puro mar longíncuo
e restos de palhoças,
bem dispostas,
dançando ao veroz vento
e se abrigando do forte sol.
Por isso se me procurarem
digam que nada acharam,
não por vesgo ou à esmo.
Digam apenas que nada viram
ou se viram ,
se depararam com um homem
simples, um sol no coração
e um desespero na alma.
Fugi, fugi de todos
por mera precaução:
descobri o amor e tive
medo de abraçá-lo.
Se vivo só, vivo augusto,
coberto de panos
e sempre que faço anos,
não sou ilustre.
Mas se me virem,
se me virem, digam
que vivo diante das pedras
e sonho todos os dias
com a leva de cordeiros
e carneiros.
Se sou assim, sou assim.
- Autor: Jose Kappel ( Offline)
- Publicado: 24 de maio de 2023 09:32
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 2
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.