Agora eu posso dizer para mim mesmo o que foi, ainda não com tanta clareza, mas consigo juntar alguns poucos vocábulos no fundo da minha mente. Você me deu pouco, você me deu muito, você me deu nada. Adivinha? O nada é o inferno pra quem já teve muito. Hoje passeio pelo museu que construí de você, as paredes estão manchadas pelo vinho que você derramou enquanto fugia apressado, aquele maldito vinho. Odeio que minha bebida favorita também seja a sua. Caminho por lá de cabeça baixa, não encaro os retratos, ainda não tenho coragem. Há uma cozinha nos fundos do museu onde todos trabalham apressados e exaustos correndo atrás de algo que julgam mais importante que o tempo. E na saída da cozinha há um beco que dá de frente para uma parede de tijolos vermelhos, o céu está vestindo estrelas que choram fraco nesta noite, tudo para combinar com você. Porque eu podia te admirar, mas nunca me molhar na tua chuva. Sento no degrau da porta da cozinha sentindo o cheiro úmido das cinzas do cigarro que você nunca fumou somado a todos os temperos que eu amava e você nunca comprou. Eles estão todos juntos naquela merda de lixeira cinza que eu e você usávamos nas nossas tarefas… Você já deixou mais peso lá do que eu.
- Autor: Lisa Fitz (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 2 de maio de 2023 22:23
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 7
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