O QUE OS OUTROS VEEM

joaquim cesario de mello

 

Sou um homem comum e habitual

desses que a gente normalmente esbarra 

e deles não levamos nada

nenhuma lembrança, nome

rosto, jeito ou presença

pois, como eles, sou banal demais

 

Sou tão corriqueiro que acordo todo dia

levanto, tomo banho, escovo os dentes

dou bons dias aqui e acolá

cumpro meus roteiros como se fossem destino

carrego minhas pedras até quase ao topo

e quando elas escorregam adormeço

para no dia seguinte voltar a levá-las

 

Sou um homem normatizado

de tal maneira convencional

que chego a ser até revolucionário

rebelde, insurgente e avançado

aí troco todos meus disfarces

e quase finjo fazer poesia de verdade

 

Sou um homem conservador

preservo em mim o espanto do menino

e a ousadia irreverente do rapaz

 

Sou quem os outros veem

cordato, vulgar e bem-educado

porém quem sou mesmo e de fato

deixo pela manhã nos espelhos

e saio como sempre pro trabalho

 

Sou simpático quando sou cordial

sorridente, afável e trivial

mas quando digo não sou antipático

e é quando os outro me chamam de chato

 

É mais fácil vestir uniformes

mas por dentro eu sou descarado

insolente, zombeteiro e libertado

 

  • Autor: joaquim cesario de mello (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de abril de 2023 17:31
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 16
  • Usuários favoritos deste poema: Heidlara


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