Sopro de olhar

 

de um olhar, uma vida inteira
foi assim aquela emoção
inominada sensação de mim
percebi flores e cheiros
multiplicaram-se as cores
e tudo era novidade

 

quis dizer mas já lhe dizia
de sua aura um perfume
imprescindível como o ar
esse ar que salienta meu peito
em cada inspiração um verso
em cada expiração, universo
e meu arfar era céu e poesia

 

vi passar sob meus olhos 
toda a vida, como dizem da morte
e ainda sequer tinha vivido
renasci tantas vezes 
e renasço agora em ti nascido
quando nada antes havia
até esse sopro de olhar

 

como correntes içadas
ao encontro que se desancora
assim um resgate de um náufrago 
a afogar-se no próprio vazio
oferto minha alma em penhora
num delírio de gratidão 
e me acolhe em seu regaço
e em seus braços me guardo
e em seu ventre minha sina
e em seus seios oceano
ressaca que me fascina
na sua ofegância e no beijo
o sonho sonhado em desejo

 

vi passar sob meus olhos 
toda a vida, como dizem da morte
e ainda sequer tinha vivido
renasci tantas vezes 
e renasço agora em ti nascido
quando nada antes havia
até esse sopro de olhar