A Solda Arde

Jose Kappel

 

Tudo como se fosse novo:
a palha, o rústico, a forma.

Tudo como se fosse de uma vez
só:
o breu, o cáustico, a solda.
 
Lampeja: você se envolve e 
quando acorda
não percebe 
a perca de seu vôo.
 
Você planeja sua vida em
ritmo de aluguel.
rende mais sal do que
o pleno açúcar.
 
Depois, não vá rastejar:
o chão é bruto,
não tem ângulo,
você é a forma
sem conteúdo!

Dá de lá, pega daqui,
tudo numa rifa infernal,
onde as coisas do coração
ficam especiais,
lentas e sombreras.
 
Se você quer ser você 
já não pode, porque o
vazio já tomou
seu lugar.
 
E se você é o anfitrião da dor,
menos mal.

A fruta não sola a terra,
o sol não vinga sua força,
a sombra reina soberana:
em sua última peça.
 
Tratado do sol e do nó,
arguto sistema de nós dois.

Quando você partiu
nos deixou, só
e abriu uma  avenida de vazio.
 
Mas se a vida vale alguma coisa,
mais vale sem você.
 
Fica tudo vazio,
sem bordas,
chameado de
falsa sinceridade:
é troco enganado,
é voz engasgada,
é muro de pedra.
 
Assim, pra te alcançar outra
vez,
só mesmo da outra vez,
quando o mundo cansar
de dar voltas,
e parar de repente.
 
Ai será a volta 
do reino canelado
na minha vida
já tão amargurada!
 
A solda arde,
o sol queima,
a saudade é faina e dor
e o amor entrou ríspido
por uma porta
e saiu por outra.

  • Autor: Jose Kappel (Offline Offline)
  • Publicado: 5 de abril de 2023 07:11
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 5


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.