O quintal de minha morada

Antonio Luiz

nos tempos que me mudei pra cá

eu separei um pedacinho de chão

cercado, com taramela no portão

pra fazer, da nova casa, o quintal

 

é troncha, a morada sem canto tal

e, ai dele, sem pé-de-versos é ermo

infrutífero e desabitado e enfermo

então o plantei, sob um abacateiro

 

brotou alegre, e feito um guerreiro

pra escapar da escuridão, cresceu

pendendo-se à esquerda, como eu

por barbas-de-velho, tão vergado

 

e ficamos análogos, tem-se notado

só que ele faz até versos temporão

e eu nem sempre tenho disposição

pra apanhá-los no pé, já não subo

 

deixo que caiam, que virem adubo

mas, às vezes, revolvo aquele chão

e coloco-os sujos em meu peneirão

que é de malha grossa e palha seca

 

pra não segurar caracol e perereca

e pra que vazem versos diminutos

acho crescidos versos mais bonitos

e poema sem tempo fica batumado

  • Autor: Antonio Luiz (Offline Offline)
  • Publicado: 27 de março de 2023 08:43
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 17
Comentários +

Comentários1

  • Shmuel

    Perfeito! Quanta poesia neste texto.

    "e poema sem tempo fica batumado"

    Abraços!

    • Antonio Luiz

      Grato pela leitura e pelo carinho do comentário, caro poeta Shmuel!

      Abraços!



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