A CADEIRA VAZIA

joaquim cesario de mello

 

Com quem dialogo neste instante

na cadeira vazia à minha frente?

 

Será com meus finados

ecos de um passado que se encontra

no silêncio no Universo aqui fora?

 

Quem me olha sentado na cadeira vazia?

Meu menino desaparecido

meu adolescente crescido

ou meu adulto renitente e inconformado?

 

E se for eu mesmo

pousado em meu leito de morte

como um velho mais velho a me encarar

querendo balbuciar algo aos meus ouvidos

que moucos não entendem direito o que ele fala?

 

O que diria eu mais adiante

a mim preso neste presente

a tramar na surdina a velhice do amanhã

ou o póstumo das antecipadas orfandades?

 

Que críticas trago do ontem

Esse lugar que nenhum hoje apaga

a me julgar com serventia tolerância

o adulto vivido que aqui se faz?

 

Ou tornei-me um Quixote desvairado

a conversar com a vazio de uma cadeira

ocupada apenas por moléculas de oxigênio

e pelo silêncio oco do bafejo dos ventos?

(Quem me dera meu pai ali sentado

discutindo comigo um poema inacabado) 

 

Só sei que nesta noite

em que dialogo com a cadeira à frente

minha filha, casada, mora em outro bairro

e minha esposa dorme tranquila no quarto

que fica no final do corredor à direita da sala

 

  • Autor: joaquim cesario de mello (Offline Offline)
  • Publicado: 21 de março de 2023 07:49
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 19


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.