Se fico, me perco,
se mais rezo, mais tonto
de amor me vejo!
São coisas que perdemos
pelo caminho,
Junto às pequenas pedras coloridas de
bolas de gude.
E perdemos papéis e rascunhos do que
pretendíamos ser,
rascunhos de cartas de reis e rainhas
imaginários,
pouco a pouco,
se esvoaçaram no esquecimento.
Perdemos as lantejoulas de marfim,
que eram áureas de flores,
onde brincávamos na terra
sem dono.
Mas pulamos cerca,
roçávamos flores,
e oramos por coisas
que nem acreditávamos.
Perdemos pedras preciosas,
a menina vestida de azul,
e sonhávamos com castelos,
e ser reis dos pobres.
E todo o dia
a gente perdia o ontem.
Pois sabíamos que a gente
morava dentro de um calendário
que só marcava o amanhã.
Perdíamos a carícia da areia da praia
pois toda vez que a tocávamos
ela regressava ao mar e jamais voltava.
Perdemos em nosso caminho o próprio
caminho de suaves areias.
Pois não sabíamos o que era viver
no mundo dos adultos, nem
no amanhã que estava chegando.
E não havia como esperar,
pois perdemos todas as coisas
careadas na infância de nossa criança
onde
a gente pensava que tudo era eterno.
E veio o dia que
percebemos
que perdemos todas as nossas coisas
e que elas jamais voltariam.
Estávamos no caminho que
nos empurrava para ser
o amanhã que estava chegando.
E nossa poeira de brincar
ia virar barro.
A vida começava,
mas a gente nunca esqueceria
de nós mesmos, um bando de meninos
prestes a ser escravos do mundo.
E chorar pelas coisas
que perdemos pelo caminho,
que hoje virou ontem.
E todos se foram
e
perdemos a hora e o tempo.
E ganhamos um relógio
gravata e terno,
que nos avisava
que a nova vida,
a partir de agora,
só seria digna, com
mora marcada
por outros homens
também dignos
e todos com hora
marcada
E viramos gente,
carregados de coisas que perdemos no ouro da vida !
- Autor: Jose Kappel ( Offline)
- Publicado: 12 de março de 2023 05:13
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 13
Comentários2
Boa tarde!
Um belíssimo Poema!
Se soubéssemos o quanto perderíamos ao crescer, talvez aproveitássemos ainda mais os tempos "de ouro da vida".
Mas a danada da vontade de ser "adulto" nos leva a apressar tudo, e nos tornamos "gente grande destrambelhada"... agora sem uma linda essência...
"Se soubéssemos o quanto perderíamos ao crescer, talvez aproveitássemos ainda mais os tempos "de ouro da vida" .
Obrigado pela sua visão. Você sabe tanto eu. O ontem nos faz hoje. O amanhã é apenas uma pergunta que a gente não sabe responder. Mas alguns se escondem no ontem. Obrigado.
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