Deus me livre

Alair Godoy

Deus me livre desse povo desunido, dessa massa que não cresce, desse pão que não vinga, do calor inútil desse forno que não assa. Deus me livre desse gol contra festejado, dessa torcida sedenta de fracasso, desse sangue na garganta do vampiro que habita nos escombros de corações pálidos e vazios. Deus me livre desse parasitismo macabro e sinistro, das mãos que se negam a mexer na terra para colher o trigo e a batata. Deus me livre dessas mãos que, ao invés de abrirem uma cova para plantar uma árvore, se juntam para cavar e festejar a sepultura do seu irmão. Deus me livre da companhia daqueles que são um perigo mortal para si mesmos.. aqueles que julgam e condenam pelo puro prazer de difamar, de destruir, de desmoralizar o bem, enquanto absolvem e abraçam o mal, ovacionando a lápide fria da miséria onde se instala o seu ódio, a sua fúria, o seu fracasso. Deus me livre daquele que por longos anos se alimenta passivamente das vísceras do peixe roubado que o gato jogou aos corvos que morreram de fome... pobres corvos.. também foram assaltados, enquanto velavam a solidão da vara de pesca ainda nova, sem uso, inútil, que ainda jaz abandonada e esquecida, no canto da sala. "Deus me livre" !  

  • Autor: Alair Godoy (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 19 de junho de 2020 13:35
  • Comentário do autor sobre o poema: Apenas um parecer, uma opinião, uma forma de expor, talvez uma indignação. Um jeito solitário de pedir a Deus que jamais nos abandone, mesmo diante de tantas imperfeições, de tantos retrocessos. Talvez até uma tentativa de deixar o conforto do casulo, perder o medo do espaço e ganhar o céu num vôo livre, rumo à imensidão.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 48
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