Tenho a fome dos ouvidos
a sede dos olhos
e o paladar dos dedos
As esquinas têm mais sussurros
que minha boca fechada
enquanto inalo a maresia que vem dos mares
e saboreio o alcalino salgado dos sargaços
Acaricio livros com a luxúria dos amantes
embriagando-me da fragrância das tintas
e do aroma adocicado das celuloses
Nos breus das noites
escuto o tingido mudo das cores
com o olhar surdo dos óculos escuros
e como se lambesse as madrugadas
mastigo a vida pelas beiradas
bem antes mesmo de terminar o prato
Em minhas calejadas mãos
não suporto todos os afetos do mundo
apenas carrego todos os sentimentos meus
O redor cósmico infiltra-se integralmente
pelas brechas do meu corpo
estas janelas e portas por onde se entra
o que de mim fora habita
e pelos quais transpiro os suores
vaporizados dos pasmos interiores
da minha espantada alma
...
Se acaso fosse um sistema fechado
seria tão insulado, isolado e seco
como os mistérios findos
de um universo morto e consumado
[Nada em mim tem sentido
se não vier e for pelos sentidos
e pela essência íntima
desta minha inquieta
subjetividade]
- Autor: joaquim cesario de mello ( Offline)
- Publicado: 28 de fevereiro de 2023 07:11
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 16
Comentários1
Muito bom!
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