A magia de uma Estrela

Adélito

O morador em situação de rua, tomou o último golo da garrafa de álcool que havia ganhado do policial para fazer a assepsia das mãos pois vivia tempos assombrosos do covid-19, ajeitou o seu biombo de papelão e eva, fez a sua prece rotineira, puxou para cima de si o velho jornal de classificados.  Embora bem agasalhado pelo efeito etílico demorou a pegar no sono, uma vez que o frio congelante o assolava. Era noite de céu estrelado e para se distrair passou a contar estrelas, de repente uma candente cortou o espaço deixando uma trilha em forma de parábola em sua memória.  Supersticioso e cheio de fé, imediatamente fez um pedido para ser suprido no que fosse a sua maior carência.  Então passou a viajar nas reminiscência de como chegou àquela situação degradante, da fome que doía o estômago, da falta de abrigo e o frio insuportável, do descaso das pessoas, da falência no casamento e se sentiu incomodado por pedir algo tão difícil, pois nem ele mesmo sabia ao certo qual era a sua maior carência. De repente, do nada percebeu uma sombra se aproximando, limpou os olhos turvos e viu uma bela moça com pouca mais de 30 anos, de pequena estatura, com o mais lindo sorriso que já vira, vestida decentemente, o que não era comum naquele local e horário, mais parecia um anjo.  E aquela graciosa moça delicadamente agachou-se e tocou ao seu ombro direito e lhe disse: não se assuste vim lhe trazer o quê encomendastes às estrelas, você tem frio, primeiro vou te aquecer depois cuido do resto, então aquela fada deitou se ao lado daquele indigente e passou a mostrá-lo de onde veio e os nomes e temperamento de cada uma de suas irmãs estrelas, na medida em que docilmente falava, habilmente acariciava aquele rosto maltratado e com barba por fazer, e então ela aproximou se vagarosamente e deu lhe um longo beijo, o pobre agora feliz senhor sentiu a doçura daqueles lábios de mel, a maciez aveludada daquela língua mágica, e a estrela em forma de gente passou a fazer carícias por todo o corpo daquela criatura que já não mais sentia frio. Percebendo a sua excitação, aquela lindeza divina assentou se sobre o pedinte e se conectou lentamente àquele ser, e ali ela como uma amazona cavalgava num cavalo ruim de sela, e com volúpia movimentava como ondas reversas e vibrantes da a pororoca, serpenteando à sua maneira sobre aquela carcaça humana, sem contudo permitir ajuda da dita criatura, dizendo que ele deveria se manter passivo pois ela tinha domínio da situação e sabia exatamente o que estava fazendo no atendimento de sua súplica. Quatro horas se passaram sem nenhuma interrupção naquela  ação magica em que a diva perpassava pelas mais diversas e variadas posições e tudo desenrolava maravilhosamente bem, sempre sob iniciativa e comando da fantástica e deliciosa mulher. Totalmente realizado e esgotado com a explosão de prazeres, o homem em um dos momentos mais intensos e mágico viu outra estrela riscar o céu, desta feita fazendo o percurso inverso só aí se deu conta de que estava de novo sozinho olhando as estrelas no céu como fizera antes. Aquele sujeito mal trapilho, se sentindo o homem mais feliz do mundo, bateu os dois joelhos no chão, agradecendo  e gritando se dizendo abastado e realizado, apontava o céu, onde mostrava uma brilhante estrela piscando, dizendo ser àquela dentre muitas, a sua namorada.  A polícia foi chamada devido a algazarra àquelas horas da madrugada. Na abordagem policial o pobre homem pedia aos militares mais álcool pois precisava  da chave que o permitiria encontrar mais uma vez com o grande e verdadeiro amor da sua vida. Hoje vive ele em um manicômio, no alto de uma colina,  onde todas as noites deixa o aconchego da sua cama para dormir no pátio, olhando as estrelas à espera do seu único amor.

 

  • Autor: Adélito (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de junho de 2020 20:36
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 8


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