O LANTERNINHA DO CINEMA
Na fachada do cinema
Um cartaz exibe o tema
De um filme censurado
Prisioneiro do sistema
Era ainda um problema
Eu não ser homem formado
No meu tempo de garoto
Os amigos mais marotos
Me contavam escondido
Era claro o desconforto
Sem idade igual dos outros
Não bastava ter ouvido
E foi quase de repente
Que me vi adolescente
Eu, dono do meu nariz
Afinal, já era “homem”
Com nome e sobrenome
Pra fazer tudo o que quis
Conquistei a namorada
Que topava "a parada"
Sem ter hora pra voltar
Com desculpa combinada
Pra chegar de madrugada
E a mãe dela não brigar
Camiseta e calça jeans
Um estilo que pra mim
Deu ares de moço bom
Ela, um rosto de criança
Nos cabelos duas tranças
Rouge, rímel, e batom
Na entrada do cinema
Quase fura o esquema
Pela idade da menina
Dei ao velho do guichê
Os ingressos, um cachê
E uns trocos mais por cima
Imprevisto superado
(O filme havia começado)
Apressamos para dentro
Eis que surge um senhor
Iluminando o corredor
E nos guia aos assentos
Envolvidos na telona
Inclinamos as poltronas
Ante cenas super quentes
O Estrógeno entona
Junto ao testosterona
Fez pequeno o ambiente
Calma lá que não sou louco
Duas horas é bem pouco
E eu querendo "namorar"
Pois, já era um rapazinho
Com a mina no escurinho
Foi difícil controlar
Grita alguém no corredor
Pra que eu e a menor
Se sentassem mais atrás
Parecia bem melhor
Mas, os berros, foi pior
Nos tirou de novo a paz
Três fileiras mais pra cima
Me sentei com a menina
Quase à porta da saída
Eu pensei não ter sentido
Que lá fosse um indivíduo
Se meter na nossa vida
De repente, eis que vejo
A mirada de um lampejo
Bater forte no meu rosto
O velhote aos gaguejos
Ironiza e faz gracejos
Pede que aprume o encosto
De lanterna ainda acesa
Me exigia mais fineza
E cobrava educação
Qu'eu fizesse a gentileza
De parar com a safadeza
E expulsou-nos da sessão
Já lá fora, envergonhado
Me sentindo injustiçado
Fui no Google me informar
Lanterninha é cargo honrado
De quem com o seu cuidado
Dá à alguém um bom lugar
Sem querer ser litigante
Mas, achei interessante
Alguém me dar explicação:
Como podem os amantes
Vendo cenas tão picantes
Se comportar na escuridão?
- Autor: Elfrans Silva (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 10 de fevereiro de 2023 20:39
- Comentário do autor sobre o poema: Na entrada da sala lá estava ele: um homem com uniforme vermelho e uma lanterna na mão. Ele era uma espécie de inspetor, que direcionava os raios da lanterna sobre quem se comportasse indevidamente. Estes ‘dedo-duros’, também conhecidos como vagalumes também tinham o papel de impedir que os tagarelas que já tivessem visto o filme narrassem as cenas seguintes. Não pense você que o lanterninha era visto apenas como um inspetor das salas de cinema. A ele cabia também a função de ajudar os atrasadinhos a encontrarem um lugar vazio no escurinho. Com a presença dele tudo funcionava bem e os filmes eram vistos na mais completa tranquilidade. Tá certo que alguns engraçadinhos ousavam assoviar nas cenas mais picantes, mas nada que pudesse extrapolar as regras ditadas pelo homem da lanterna.
- Categoria: Não classificado
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