O LANTERNINHA DO CINEMA

Elfrans Silva

O LANTERNINHA DO CINEMA

Na fachada do cinema 
Um cartaz exibe o tema
De um filme censurado 
Prisioneiro do sistema
Era ainda um problema
Eu não ser homem formado 

No meu tempo de garoto
Os amigos mais marotos
Me contavam escondido 
Era claro o desconforto 
Sem idade igual dos outros
Não bastava ter ouvido 

E foi quase de repente
Que me vi adolescente
Eu, dono do meu nariz
Afinal, já era “homem”
Com nome e sobrenome
Pra fazer tudo o que quis 

Conquistei a namorada 
Que topava "a parada" 
Sem ter hora pra voltar
Com desculpa combinada
Pra chegar de madrugada 
E a mãe dela não brigar 

Camiseta e calça jeans 
Um estilo que pra mim
Deu ares de moço bom
Ela, um rosto de criança 
Nos cabelos duas tranças 
Rouge, rímel, e batom 

Na entrada do cinema
Quase fura o esquema 
Pela idade da menina
Dei ao velho do guichê 
Os ingressos, um cachê 
E uns trocos mais por cima 

Imprevisto superado
(O filme havia começado)
Apressamos para dentro
Eis que surge um senhor
Iluminando o corredor
E nos guia aos assentos 

Envolvidos na telona
Inclinamos as poltronas
Ante cenas super quentes
O Estrógeno entona
Junto ao testosterona 
Fez pequeno o ambiente 

Calma lá que não sou louco
Duas horas é bem pouco
E eu querendo "namorar"
Pois, já era um rapazinho 
Com a mina no escurinho
Foi difícil controlar 

Grita alguém no corredor
Pra que eu e a menor
Se sentassem mais atrás 
Parecia bem melhor
Mas, os berros, foi pior
Nos tirou de novo a paz 

Três fileiras mais pra cima
Me sentei com a menina
Quase à porta da saída 
Eu pensei não ter sentido
Que lá fosse um indivíduo 
Se meter na nossa vida

De repente, eis que vejo
A mirada de um lampejo
Bater forte no meu rosto
O velhote aos gaguejos
Ironiza e faz gracejos
Pede que aprume o encosto 

De lanterna ainda acesa
Me exigia mais fineza
E cobrava educação
Qu'eu fizesse a gentileza
De parar com a safadeza
E expulsou-nos da sessão 

Já lá fora, envergonhado 
Me sentindo injustiçado
Fui no Google me informar 
Lanterninha é cargo honrado
De quem com o seu cuidado 
Dá à alguém um bom lugar 

Sem querer ser litigante
Mas, achei interessante
Alguém me dar explicação:
Como podem os amantes
Vendo cenas tão picantes
Se comportar na escuridão?

  • Autor: Elfrans Silva (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 10 de fevereiro de 2023 20:39
  • Comentário do autor sobre o poema: Na entrada da sala lá estava ele: um homem com uniforme vermelho e uma lanterna na mão. Ele era uma espécie de inspetor, que direcionava os raios da lanterna sobre quem se comportasse indevidamente. Estes ‘dedo-duros’, também conhecidos como vagalumes também tinham o papel de impedir que os tagarelas que já tivessem visto o filme narrassem as cenas seguintes. Não pense você que o lanterninha era visto apenas como um inspetor das salas de cinema. A ele cabia também a função de ajudar os atrasadinhos a encontrarem um lugar vazio no escurinho. Com a presença dele tudo funcionava bem e os filmes eram vistos na mais completa tranquilidade. Tá certo que alguns engraçadinhos ousavam assoviar nas cenas mais picantes, mas nada que pudesse extrapolar as regras ditadas pelo homem da lanterna.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 14


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