A Morte em desespero

Doloroso

sometimes I feel wherever I go, I leave no man's land behind

and God is a pet and the devil's a toy, and I'm a danger in your paradise 

(Gold/Bloss/Janey Diamond)

 

Preciso voltar para dentro mim

Para tentar te encontrar;

Para tentar achar vestígios de tua ausência em mim.

Lá fora, tudo está tomado pelo sopro de tua vida;

A própria vida está repleta da ti, 

Mas para mim, tu não estás em parte alguma,

Exceto aqui, dentro de mim, 

Onde reina um vazio sepulcral de uma dor

De não te ver, de não te saber,

De não te ter…

Até onde terei que ir para te buscar,

Para te trazer e te instalar em meu pensamento

Sem que eu sofra tanto com a representação que consigo de ti?

Até onde terei que vagar sem ter paz?

Paz para chorar o meu amor;

A paz de enganar-me que estás ao alcance de minha tola suposição, 

Ainda que no estéril imaginário. 

Até onde teu rosto,

Tuas mãos, teu corpo inatingível 

Me levarão para abandonar-me na cruel realidade? 

Até quando o brutal silêncio das respostas 

Será esmagado pelo grito de recusa das possibilidades? 

Sou o fantasma que assombra tua antiga fortaleza…

Vasculho cada canto onde tu estiveste

Na esperança de ver tua aparição

Espectral, sublime,

A me levar para a terra de teus mistérios…

Farejo o ar buscando uma micro partícula de cheiro teu,

Algum traço que deixaste para trás;

Alguém que diga teu nome

Ou o que foi feito de ti.

Esquadrinho rostos tentando encontrar o teu,

Ou comparando no que se assemelham ou diferem.

Uma outra de ti, invisível, criação de meus desejos,

Uma entidade que só existe na dor de minha procura,

Circula neste lugar como o ar presente em toda parte. 

Eu mesmo não a vejo, mas estou preso,

Ligado à sua umbrática representação 

Como um mau espírito ao seu cadáver que apodrece.

O bem que me fazes é o mal que me trazes

E que me acorrenta ao fundo lodoso da existência. 

Preciso voltar para dentro de mim

E inventariar os escombros de meus sonhos;

Velar meus restos…

Imaginar-te ainda mais linda e bela,

Mais sonho e ilusão, 

Mais perdida para mim do que jamais estiveste.

Pois é dentro dessas ruínas internas,

Nas sombras de teus olhos ausentes,

Na presença fantasmagórica de tua imagem incorpórea,

Que sou senhor dos teus passos;

Do corpo que imagino guardado no repouso,

Imerso em uma prece de adoração ao espírito e à carne. 

Preciso voltar para dentro de mim 

Para te perder neste labirinto de minha vida

De onde não encontrarei saída. 

Pois te achando, tudo terá se perdido;

Perdendo-te, alumiarei a escuridão de meus pesadelos

Para enxergar-me vencido;

Amando-te,

Entrego-me eternamente em sacrifício 

À eterna e tirânica solidão.

  • Autor: Doloroso (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 8 de fevereiro de 2023 18:41
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 7


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