Nappi

Algo melhor que o céu.

Eu limpo o suor da testa bagunçando toda minha franja, meu coração bate em descompasso, bato minhas costas e a cabeça repetidas vezes na parede fria, consigo ouvir as gargalhadas que saem direto da minha garganta mas também sinto lágrimas incessantes correndo por todo meu rosto, sinto o gosto salgado e o peso gelado delas na minha língua, mas não consigo fechar a boca pois as risadas saem descontroladas. Bato a cabeça mais uma vez, minhas costas ecoam junto, e de novo, faço de novo e de novo e elas não param de falar dentro da minha cabeça, são muitas dessa vez, não consigo fazer pararem, se calarem, eu sinto elas vindo, consigo ouvir dizerem que vão me pegar dessa vez, que dessa eu não passo, que não vou mais fugir delas, eu sinto elas saindo da minha cabeça para vir me buscar e me levar direto para a loucura, sem nenhuma parada antes, elas estão vindo, estão vindo me pegar. Eu sinto me arrastarem do chão, ouço novas vozes, abro os olhos e vejo homens de branco, eu fujo. Eles me perseguem. A essa altura não tenho certeza se são reais ou não mas eu corro mesmo assim, eu corro até tropeçar e não conseguir ouvir mais nada além das vozes, eu grito, eu grito até minha voz falhar mas nem sequer me escuto, eles chegaram! e eu consigo sentir uma dor distante de algo me furando, eu sinto queimar e grito de novo, não consigo ver mais nada pois as lágrimas me embaçam os olhos, eles dizem que vai ficar tudo bem e de primeira não acredito, as vozes mentem né? mas vai ficar tudo bem, já está tudo incrivelmente bem. Eu sonho um sonho de faz de conta e adormeço.

 

Tento me acostumar com a luz branca e fosca em meus olhos ao acordar, pareço repousar em algo extremamente macio, me colocaram em um confortável casaco com mangas que me abraçam, o casaco não me deixa sair e eu me sinto confortável, como se ele tivesse me acolhido, ele também é branco, então me percebo em uma sala completamente tomada pela cor e acolchoada, penso estar no céu. Sorrio, sorrio como nunca antes, sorrio tanto que os sorrisos se tornam as risadas mais sinceras de toda minha vida, vai ficar tudo bem, nada nunca esteve tão bem, meu sorriso aumenta ainda mais, porque eu finalmente estou no céu, algo ainda melhor que o céu, ao contrário não teriam tantas drogas. Vai ficar tudo bem, nunca esteve tão bem, afinal elas não conseguiram me pegar.

 

 

  • Autor: Nappi (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 13 de Janeiro de 2023 22:59
  • Categoria: Conto
  • Visualizações: 15
  • Usuário favorito deste poema: SANTO VANDINHO.

Comentários1

  • SANTO VANDINHO

    conto reflexivo e de desespero de um Ser querendo se encontrar nessa Imensidão dos Céus dos Infernos nesse Caos dos Diachos e só encontrando a Paz (esse Céus tão procurado) se o Ser Si Cuidar e Cuidar um do outro chorando ou sem chorar ! Paz e Bem Poetisa !



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