Ó minha alma por que andas tão vazia?
Ó minha alma por que andas tão vazia?
Que lhe sature a dor que ela lhe nutra
Como as várias posições do Kamasutra
Nutrem as noites de prazer e de orgia!
Que da tristeza lhe sacie o sofrimento!
Que a angústia seja o pão de cada dia
Pois toda alma necessita de alimento
E pouco importa se é a dor que lhe sacia!
"Mas poeta nada há que satisfaça
Uma alma destinada ao sofrer!
Descarregue toneladas de desgraça
E inda assim tu não irás me preencher!"
"Poeta, meu vazio não tem limite!
Sou uma vaga e obumbrada escuridão
Que é o obeso com seu mórbido apetite
Se comparado à minha vasta imensidão?"
"Eis que reduzo a compulsão insaciável
E o furor exacerbado de Paulina
A um molambo de vontade miserável;
Minha fundura não começa e nem termina!"
"Em meu vazio tudo se faz irrelevante
Do desespero, ao alvor dos sonhos teus
Da diabólica presença inebriante
Ao poderoso e compassivo olhar de Deus!"
Ó minha alma é que as coisas desta vida
Nada me trazem e eu apalpo a sensação
De que a dor é uma dádiva auferida
Por todo aquele que viver é maldição!
"Poeta, tu és mesmo um malogrado
Me recordo do teu tempo de criança
Mas não lembro de uma rua do passado
Em que tenhas ostentado a esperança!"
A enterrei e sua cova não foi rasa;
Apodreceu e nunca mais foi insepulta,
Como um cadáver no terreno de uma casa
Sua poeira em meu peito jaz oculta!
Todas as vezes que a lembrança me invade
Eu me recordo de um momento angustiante,
Em que queimado pelo sol de uma verdade
Esturriquei as minhas vestes de farsante!
E desde então, eu vivo aos pés da amargura
Como um cristão aos pés da sacristia
Diariamente o desespero me procura
Pra um passeio pelos bosques da agonia!
"Quanta tristeza! Mas escutes atentado;
Toda vacância da angústia que tu sentes
Se encherá quando quedares soterrado
Alheio a todo choramingo dos parentes!
Enquanto a cova sequiosa não tragar-te;
Tu hás de sempre carregar o meu abismo
Sorvendo sempre a aflição com heroísmo
Qual um soldado carregando um estandarte!"
- Autor: Moreira Júnior (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 13 de janeiro de 2023 22:13
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 5
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.