Culpado

Eduardo Alves de Oliveira

Sendo a criação o ato supremo,
que é tudo após o nascimento,
senão frustração?

 

Perdi-me: fui ridículo, insuportavelmente ridículo,
e pequei.
Pequei, pois sou infelizmente todo humano,
sou todo a humanidade, e portanto - pequei.

 

Eu, de todo parasita, roedor, sujo,
eu, que tantas vezes julguei e maldisse o outro:
afundei-me em lama, mergulhei na escuridão,
fiz-me cego.

 

Sou vergonha aos santos e, dentre os meus irmãos,
sou o pior deles.
Pior, pois se as graças que à mim foram concedidas
à outros fossem,
não estariam estes salvos?

 

Mas aqui estou eu, ridículo, mesquinho:
não sou nada que não a própria materialização
do mal.
Sou eu, irremediavelmente preguiçoso,
indesculpavelmente culpado.

 

Tantas vezes eu, sendo porco como sou,
assim disse à mim mesmo - que confiei em mim,
pois sou todo mentiroso! - que ia enfim
disciplinar, fazer-me santo: mentira!

Sou odioso, e minha carne com isso é contentada.

  • Autor: Francisco de Morte (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 6 de dezembro de 2022 23:46
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 9


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