Liduina do Nascimento

Estridente

 

Estridente

 

A poesia não é para acalmar, mas para incomodar feito a paz que procuramos, sabendo, não adianta fugirmos... Foi no apagar da luz de um sol que há algumas horas se foi, quem sabe o último sol,  jamais iremos saber que, tanto aqui dentro da sala e também lá fora, o cri cri dos grilos ameniza a intensidade da escuridão quando ela vem atiçar a total ansiedade, nessa vida fugidia que acontece trazendo uma sensação de perda, e de labirinto, ainda assim, aquece-me por sorte, entrecortado irritante zunido atordoando os meus ouvidos, e os meus olhos se perdem como os invisíveis grilos diante do falso sinal quase verde dos esperançosos vaga-lumes que restaram, eles vem e dão um brilho fugaz feito a ilusão...  e no zumbir do silêncio agora é sentida, a existência de tudo o que imaginamos e que prevalece, os grilos por si só abafam o som previsível, conhecido e os amedrontadores gemidos da escravidão e no tilintar das correntes dos meus infelizes antepassados... agora a visão do que antes era uma choupana chamada de casa grande, se transformou em sobrado de frente para a lua e ao fundo o poente se fecha com o som da fonte, as minhas mágoas me estremecem toda, mas  feito o sangue que corre em minhas veias, aí se vão as águas incessantemente, águas recorrentes sofridas por conhecerem a dor da escravidão. Pior é o atordoar que está acontecendo em meu interior, urgentemente preciso voar, peço urgentemente socorro, à minha alma, daí, felizmente começa uma chuva arrastada pelos ventos, o barulho das árvores em alvoroço, ventanias, chove, é total esse destroço, todo absurdo que habita em mim,  inunda a minha existência, é certo que essa noite não vou poder sonhar, a paz em vão tenta invadir-me mas, sou essa tempestade, há algo mais forte gritando dentro de mim. Estridente é o silêncio da noite, causa uma sensação de infinito, esse mesmo que não existe, feito a esperança anunciando da ilusão o fim.

Autora: Liduina do Nascimento

  • Autor: Liduina do Nascimento (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 27 de Novembro de 2022 23:28
  • Comentário do autor sobre o poema: Sobre a vida de cada um
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 6


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