QUIMERA

QUIMERA 
quimera - esperança ou sonho no qual não é possível alcançar, uma utopia. 

Se somos Romeu e Julieta, por que terminei como Ofélia? 
Um pacífico olhar que se torna uma epifania no que antes era um coração desabitado. 
As promessas recônditas professadas nas cálidas madrugadas de verão, “do sol até a lua, eu serei sua”. 
O toque singelo no fim das minhas costas e a forma em que o dedo se enrola no meu cabelo e me faz sentir como a menina mais bela em todo o reino. 
Mas seu aparente amor clamoroso tornou-se um sussurro inaudível. 
Pelo fim do verão o seu cheiro marcante já era uma lembrança devassadora. 
E o que era meu castelo virou um calabouço de memórias fúnebres do que antes fora um lar. Posso sentir o teto desabando sobre minha cabeça. Consegue ouvir meus gritos? 
Quando nos fundimos, você levou um pedaço de mim desacreditado de que era meu todo. As minhas cinzas são levadas pelo mesmo vento em que abriu suas asas, formando um tornado em mim. 
Um amor segregado com juras de “para sempre” se transmuda em um grito sufocado de ajuda. O nível da água aumenta, já não é mais possível respirar, mas de olhos fechados ainda vejo aquilo que me fez me apaixonar. De repente a ideia de me afogar me conforma mais do que a de continuar. 
Agora as lágrimas ardentes batizam o aniquilamento da minha ingenuidade. 
E me pergunto se o novo brilho em seu sorriso é o mesmo que de mim se esvaiu 
Como pode dançar com alguém que não seja eu? E viver uma vida que não seja a nossa? 
Não eram palavras supérfluas. Eu me lembro, eu estava lá. Mas eu era apenas uma peça do seu jogo de xadrez, a rainha que acabou de matar. 
De repente, me pego tentando encaixar-me em seus novos moldes. Mas meu coração se despedaça quando o vejo rindo como uma criança de piadas que não são minhas. Ou quando não reconhece a minha presença no mesmo ambiente onde era a única que importava. 
E a lua para qual eu suspirava ainda sentindo sua respiração no meu pescoço é a mesma que me ajoelho e imploro para que seja tudo apenas um pesadelo. Porque um coração intocado é melhor que um fragmentado.  
No meio da noite onde minha mente esganiça pelo seu nome, me pergunto o quão repugnante fui para que nem se lembre do meu. 
E é murmurando o  timbre da minha canção preferida que sei que faria de tudo para o ter minimamente de volta, porque resquícios de momentos felizes é melhor do que um para sempre vazio. 
Assim, meu fim de dá como o de Ofélia. Afogada, desamparada, louca e sozinha. Para toda a eternidade, sozinha.