Diante das variadas questões raciais e exaltação do antifascismo, que nada mais era do que a divulgação, ignorantemente, involuntária no coletivo social de um pensamento e filosofia fascista (regime político-filosófico italiano estabelecido nas primeiras décadas do século XX por Benito Mussolini, fazendo prevalecer o conceito da superioridade de uma raça e seu sistema de governo ditador e autocrático), que se apresentavam naqueles sombrios e acinzentados dias pandêmicos. Resolvera adentrar em si mesmo, na resolução da síntese de sua própria persona etnicamente mal identificada e incompreendida. E, se buscando em cansativas e exaustivas análises na cosmologia da raça humana e nas muitas referências lhes apresentadas em estudos acadêmicos… filosóficos… podcasts, posts e lives… discursos escritos e audiovisuais nas redes sociais e internet…, contudo, não se encontrara. Percebeu-se no mundo dos humanos… um ser alienígena.
Racialmente, internamente, não se identificava e, externamente, não era identificado a nenhum povo ou etnia.
Ele era fruto de uma louca, mutante e ‘metamorfósica’ mistura étnica, filosófica, religiosa e cultural. Bisneto de uma índia Pataxó-hã-hã-hães (que já era uma mistura combinada dos Povos Baenãs, Tupinambás, Mongoios, Camacãs, Geréns, Sapuiás, Quiriris, e entre outros… que habitavam o sudoeste do Estado da Bahia) com um cigano oriundo da Grécia (descendente dos Povos Rom, nômades desertores do sistema de casta na antiga Índia, provenientes do noroeste do Subcontinente Indiano, região peninsular do sul asiático que compreende os atuais países da Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal, Butão e as ilhas Maldivas, e, as do Sri Lanka). Neto do fruto dessa mistura, por parte da sua avó, com um judeu sefardita ocidental oriundo da Espanha (que chagara na Península Ibérica nas embarcações fenícias, durante as destruições do Templo de Jerusalém pelas revoltas judaicas e romanas). E, por última consequência, filho dessa mistura, por parte de mãe, com um negro oriundo dos Povos Iorubás (que foram violentamente sequestrados, e criminosamente extraditados da sua terra natal, o Império de Oió, nos meados do século XVI, chegando ao Novo Mundo nos tumbeiros da colonização portuguesa).
…Assim, nessa complexa linhagem, era bem mal compreendido pela moderna sociedade brasileira, que (por ignorância) ignorava o procedimento decorrente de um intenso processo miscigenatório (classificado por alguns estudiosos acadêmicos brasileiros como: Homo brasilis)…, e incompreendido por ele mesmo nessa atual conjectura e caótica questão racial da sociedade brasileira, e mundial (no que se referia o caso do assassinato de George Floyd)… não sabendo em que lado deveria estar… que partido deveria tomar… e que etnia deveria se classificar… qual dogma e religião poderia declarar como sua verdade filosófica… e, que bandeira deveria sustentar. Porém, sabia ele que a corda sempre parte do lado preto. E nisso, também, enfureceu-se pela cruel morte do homem preto pelo poder estatal do homem branco. Contudo, pôs-se a pensar em que partido, dentro de si, iria tomar…
De um lado… sua negritude e africanidade imperava, no externo, em sua forma física (corpo marrom, olhos castanhos escuros, traços faciais negros e cabelo crespo). Por outro lado… seu sistema psicológico e intelectual era ‘eurocentricamente’ branco. E, mediando nos seus extremos polos opostos do ‘SER’ e de ser… intentara que seu coração era ‘nativamente’ dos originais povos das Matas Atlânticas sul-americanas.
Apesar de na sociedade brasileira, americana, asiática e europeia ser comumente discriminado como um negro da diáspora africana, no externo mundo social… Quando viajara ao continente Africano, percorrendo todas as suas regiões geográficas (Norte da África, África Ocidental, África Centro-ocidental, África Centro-oriental e África Meridional) na procura de uma identidade africana… Para seu espanto e surpresa! Fora discriminado pelos próprios negros africanos como um ‘MESTIÇO’. Nisso, se viu desolado… desabrigado… desenraizado. O chão sumiu diante dos seus pés, e caíra em um abismo sem fim na profundidade do seu ser. Na África, seu tapete fora puxado por sua própria descendência africana, caindo esparramado de bunda contra o chão. E, assim, se perguntara: “Quem sou eu?”, “Quem são meus ancestrais?”, “A que casa humana pertenço”. E, em sua existencial miscigenada contradição não poderia negar o Branco, o Preto e o Nativo Americano dentro de si, porém, seria um erro escolher uma dessas partes como política existencial, pois, ao fazer isso, cometeria o equívoco de negar a si mesmo como o todo de tudo. E, se viu sendo: O NOVO! O UM! A UNIÃO! E, também, o esquisito, a anomalia, o invisível.
Percebeu que a Raça Humana proveio de um único embrião que crescera, multiplicara, evoluíra e se apartara dela mesma, indo explorar e habitar as várias regiões da Terra, e, por consequência, se fragmentara dela mesma, se mutando e se dividindo em si mesma. Daí intentou na concepção do: Retorno para Casa. E, viu que a miscigenação era, nada mais e nada menos do que, a realização natural desse retorno. Então, como ser miscigenado que era, se estudou, observando a si mesmo e seu meio-ambiente comunal e social.
Não generalizando, mas em proporções e porcentagens maiores do que a média. Percebeu:
a) que seus amigos negros (filhos de mães e pais negros) eram intelectualmente ignorantes em sua maioria. Não compreendiam, concebiam e nem dominavam a intelectualidade (que é de origem eurocêntrica). Sendo que para isso, necessitavam realizar um esforço energético tremendo, e antinatural, para se enquadrar nos padrões acadêmicos e filosóficos dessa intelectualidade e cultura greco-romana, que não correspondiam as suas realidades e necessidades básicas e existenciais. Porém, em contrapartida, eram seres místicos por natureza. A magia com todo o seu misticismo e conceitos esotéricos já estavam entranhados desde o berço em sua essência de ser. Seus corpos eram esbeltos, sensuais e atrativos. Dominavam toda sensualidade dos gestos dançantes, em toda a associação dos elementos cênicos-dramáticos e místicos da estética da dança e coreografia corporal. Além de serem músicos por natureza, e obterem uma força corporal descomunal, que desafiava as leis físicas e gravitacionais deste plano terrestre. Eram seres conectados à terra, naturalmente formados em simbiose com toda vida e ecologia… conhecedores dos mundos invisíveis e mágicos com seus seres elementais e inefáveis.
b) que seus amigos brancos (filhos de mães e pais brancos) eram misticamente ignorantes em toda sua maioria. Desconectados da natureza, meio-ambiente e dos seus próprios corpos e espiritualidade ecológica. Sendo pessoas de psicológico e físico fraco, e de baixa autoestima corporal e emocional. Super dependentes das coisas e objetos criados e inventados por eles mesmos, além de possuírem uma dependência doméstica sócio problemática, não sabendo realizar suas tarefas mais simples… e sempre necessitando de uma outra pessoa em seus afazeres diários de higiene, proteção e alimentação. Possuidores de um super Ego (buscando fama, glórias, sucesso, riquezas, poder e luxo e, sobretudo, em poder saciar suas sensações e satisfações instintivas no abuso das drogas, dos esportes violentos e radicais, e, do sexo sem medir consequências) e entregues as coisas mais banais e materiais do sistema social urbano civilizatório. Porém, naturalmente, eram gênios intelectuais. Possuidores de uma mente informática e racional na busca de resoluções de problemas no seu cotidiano. Mestres acadêmicos, políticos, científicos, engenheiros, medicinais, econômicos, financeiros e tecnológicos. Formadores da moderna civilização com todos os seus equipamentos, aparatos e ferramentas… os donos do mundo e de todas as coisas inventadas e padronizadas dessa caótica sociedade humana.
Já os nativos, ele não possuía um só amigo sequer. Pois, não havia espaço para sua existência na moderna sociedade. Se o nativo abandonar sua terra, tribo e floresta… ele tinha que fazer um abandono de si mesmo, em toda sua essência. Sua língua, cultura, saberes e modo de vida eram totalmente contrarias a todo conceito da sociedade urbana e civilizatória, e de nada valia para essa sociedade no seu conceito funcional. O valor do nativo brasileiro, estava em ser nativo mesmo… vivendo na floresta com seus costumes, modos e crenças.
Então, observando a si mesmo, meditando e refletindo… se vendo mestiço: sua mente intelectual era branca… seu copo místico-físico era preto… e seu oculto coração-alma era nativo. A Sagrada Trindade em si mesmo… A tríade evolucionária encarnada e manifestada!
E o mestiço? Qual é o seu valor? Em que se baseia a sua crença e seu papel na sociedade?
O mestiço (possuindo um pai negro e uma mãe branca, ou nativa… ao contrário, ou vice-versa, tudo junto e misturado) vive um eterno dilema. Apoiado em uma corda bamba, que por incrível que pareça sua parte nativa automaticamente se anulava (pelas questões culturais apresentadas no parágrafo acima), sendo que lhes restava apenas os dois lados da moeda sócio racial: o branco e o preto. E o que determinava essa escolha? Sem dúvida a química orgânica da enzima tirosinase… as altas ou baixas concentrações de melanina e sua principal função da pigmentação da pele, no caso, humana. Que na cultura popular greco-romana as altas taxas de melanina era classificada, como: ‘Sujeira Escura’, e na cultura eurocêntrica colonial era discriminada, como: ‘Sujeira Biológica’.
Entretanto, se o equilibrista mestiço tiver, no jogo genético do cara e coroa, baixas taxas de melanina: ele perderá seu equilíbrio caindo no lado social branco. E se tiver altas taxas, uma vez possuindo maior quantidade de melanina: perderá seu equilíbrio tombando no lado social preto. Daí, percebera o racismo em sua síntese, em que o mais prejudicado era ele mesmo, pelo fato de ser: O Mestiço!
Discriminado, sendo tudo, a escolher na atual sociedade em que vive um só partido…
Mal compreendido e julgado socialmente…
Pejorado e anulado…
Tendo que habitar um corpo mutante e alienígena… o X-Man da questão!
O mestiço é tudo enquanto é nada. Compreende o Misticismo Negro e a Intelectualidade Branca. Mas, não é profundo como o negro no misticismo e como branco na intelectualidade. Sendo raso, no entanto, manifestando: ALGO NOVO!
Pensando na corda bamba da sua existência, e no discurso do racismo. Viu que toda luta das políticas do ‘movimento negro’, e dos ‘mestiços negros’, era para conquistar o espaço do ‘branco’ na sociedade pós colonial das Américas. E ao contrário do que pregava Marcus Mosiah Garvey, com suas ideias do movimento de retorno da diáspora negra para África. Os ‘negros’ americanos pós-colonial queriam estar nas faculdades e universidades criadas e mantidas pelos ‘brancos’, e estudar sua visão e filosofia cartesiana e eurocêntrica de mundo… batalhavam para estar na televisão do ‘branco’… a usar a moda do ‘branco’… a ter a vida e o sistema econômico do ‘branco’… e nunca lutavam verdadeiramente para resgatar as suas línguas e culturas africanas, que estavam sendo abandonadas… até os próprios ‘brancos’, também, resolverem tomar de assalto as ‘culturas negras’, e em seu empreendedorismo massivo, comercializa-las. Sendo, que Marcus Garvey já dizia no passado: “Eu não tenho nenhum desejo de levar todas as pessoas negras de volta para a África, há negros que não são bons elementos aqui e provavelmente não o serão lá.” E, viu a contradição nas lutas e ideologias de raça, em que as próprias pessoas que se dizem ‘negras’, não sabem e nem se interessam a estudar e falar uma língua nativa africana, além de só saber algumas palavrinhas, mas, ironicamente ficam criticando o ‘branco’ na língua do ‘branco’. Assim, percebeu a hipocrisia, pois a luta do ‘negro’ não é por África e nem racial, e sim, é uma luta de classe econômica disfarçada. (não querendo desfavorecer aqui os direitos e deveres constitucionais de todo cidadão brasileiro, independente de sua etnia).
Percebera a evolução da raça humana em si mesmo, e sabia que ainda estava no início do início de todo o complexo processo evolutivo. Mas, o diferente e maravilhoso nos dias de hoje é que esse processo pode ser estudado, pensado, analisado e devidamente acompanhado. Sendo, ao que diz respeito a Teoria da Evolução, não seria mais o caso de uma espécie evolutiva sentir a necessidade de exterminar a outra espécie (como foi a do Homo Sapiens em relação aos outros hominídeos). O NOVO! O processo final do Mestiço, se culminaria na mistura das misturas de todas as etnias em união em si mesma.
Em sua catarse étnica racial, como mestiço que era, se classificou como a união e evolução da raça, pelo qual, automaticamente, se batizou de: Homo existencialis. A síntese da união biologicamente genética existencial, global, virtual, cultural, étnica, religiosa e filosófica de todo o multiverso universal da Raça Humana. E, como filosofia, decidira a partir daquele momento, conscientemente revolucionário, defender e levantar como bandeira a união dos povos, suas diversas etnias e cultura em uma única simbiose natural e ambiental, lutar pela ecologia e pregar a sustentabilidade humana na ‘Consciência Universal Biomática’, como classificara sua nova filosofia, promovendo uma estabilidade de união e amor desenvolvida e adaptada onde nossas múltiplas diferenças possam ser transformadas em ferramentas, para construção de uma nova e moderna sociedade mundial, cujos nossos valores individuais e coletivos se fundam em uma cultura de união contínua, visando enraizar práticas regenerativas, resgatando, assim, os vínculos humanos de proximidade para crescermos em uma nova perspectiva de PAZ, nos orientando nessa difícil, porém possível, tarefa de estabelecer a HARMONIA em nossa amada Ama Terra.
- Autor: Jp Santsil ( Offline)
- Publicado: 13 de setembro de 2022 14:47
- Categoria: Conto
- Visualizações: 4
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