Para minha amiga Magda 

 

Quantas vezes tive que provar a mim mesma

a força que nascia das minhas fraquezas?

Quantas vezes quase afoguei-me nas águas

que formavam o mar do meu próprio caminho?

Quantas vezes acreditei que uma viagem no tempo

seria a salvação para as dores que me corroíam?

Quantas vezes tive que dançar conforme a música

que outra pessoa tocava para mim?

Quantas vezes confiei em corações puros

e entreguei a pureza do meu em troca?

Quantas vezes o vento contrário empurrou-me

para o mais profundo do abismo de minh'alma?

Quantas vezes eu fui a mão que segurou os passos

incertos e falhos que meus pés desejaram percorrer?

Quantas vezes eu quis deixar de ser apenas eu

e me tornar um pouco mais de você?

 

O tempo não leva o que já foi

nem apaga o que vivi

o tempo se funde com a tormenta

e se confunde com a promessa de cura

o tempo cura

o tempo dura

o tempo sutura

o tempo apura

meus sentidos que ainda estão desnorteados

minhas dores que ainda latejam insistentes

meus pensamentos que ainda se sentem atormentados

meus sentimentos que ainda pensam ser carentes

 

o tempo não passa, meu bem!

eu passo pelo tempo

e encontro a cura das minhas feridas abertas

em meu próprio caminhar

é o meu destino

é a minha sina

morrer e renascer mais forte

ser algo além do que imaginei possível

bailar com o vento que aspira me carregar pelos ares

mergulhar na profundidade dos meus próprios mares

emergir límpida

brilhar com a luz do sol

tornar-me o sol da minha estrada

ser humana

ser deusa

ser tudo

ser nada

 

o tempo não passa, meu bem!

eu passo pelo tempo-espaço

a cada badalada componho minha canção

meu espírito flui no mesmo compasso

sou eu

e sou outra

amanhã, quando me encontrar outra vez,

não reconhecerá nada em mim

mas saberá que sou eu

lerá minha essência

e seus olhos brilharão

porque, apesar de tudo,

continuo a confiar na vida.