O tempo é nosso aliado
Mas pode ser nosso algoz
Segue lento ou bem veloz
Definha o corpo um bocado
Se o espírito é bem cuidado
Ele então nunca adoece
Não carece só de prece
Pra uma existência faceira
A vida é tão passageira
Que a alma não envelhece.

O espírito é resistente
Ao tempo e a mudança
Como rebelde criança
Mas o corpo é decadente
Nem sempre é resiliente 
Qualquer dor o esmorece
O deprime e adoece
E o tempo lhe da rasteira
A vida é tão passageira
Que a alma não envelhece 

Eu já vi jovem idoso
Como idoso juvenil
O primeiro bem hostil
O segundo mais garboso
Disposto e bem vigoroso
A alegria o abastece
Ele nunca se aborrece
E vive o hoje sem besteira
A vida é tão passageira
Que a alma não envelhece 

Mas o idoso derrotado
Vive sempre em nostalgia
O presente lhe agonia
Sobrevive do passado
Nas lembranças afogado 
E tudo lhe causa estresse
Sempre ele cedo adormece
Mas isso é pura doideira
A vida é tão passageira
Que a alma não envelhece

Glosa 1, 3 e 4: Jessé Ojuara
Mote e Glosa 2: Vivian Lissek