Eu não sei que tipo de costume é esse sabe
Um costume de ser rejeitada
Aceitando que minha natureza repudia
Repudiando partes minhas
Aceitando todo tipo de abuso, porque se é isso que preciso fazer
Para me sentir aceita, então está tudo bem
Está tudo bem desistir de mim
Está tudo bem atuar
E está tudo bem aceitar qualquer roteiro
Não está nada bem
Eu tenho o costume de me doar de mais
Com uma escassez enorme, porque falta muito de mim
Eu tenho o costume de ser de mais
Enquanto me perco tentando existir perante alguma coisa
De me entregar de mais
Enquanto nunca me tive de verdade
E de me agarrar nas pessoas de mais
Porque eu preciso pertencer de alguma forma
Eu não pertenci a ninguém
E foi apavorante ser rejeitada
Foi apavorante ser ignorada
Foi apavorante ser esquecida
Foi apavorante me esquecer
Foi apavorante perceber que eu estava doente de solidão
Mendigando um pouco de atenção, mendigando um pouco de mim
Mendigando alguém para me acolher
Porque eu não aguentava mais ter que me explicar
Explicar que eu não era errada
Explicar que eu podia ser amada
Ter que implorar para ser aceita
Eu não aguentava mais lutar contra o mundo
Me acostumando a ser atacada
Me atacando
Com um rancor enorme de tudo que sou
Cansada da impotência
Cansada da minha força
Porque eu a perdia assim que arrebentavam minhas feridas
Podem me culpar por ser tão implacável
Por ser tão dura
Por nunca sair da defensiva
Parece tentador para o mundo testar minha força
Ver até onde minha fortaleza se estende
Ver se meus muros são tão impenetráveis assim
Me tratando como se eu realmente fosse impenetrável
Como se eu fosse tão inabalável
Mas que ser humano é? Não se enganem eu também sou humana
Eu me abalo
Eu desabo
Eu sinto cada pancada que o mundo me dá
Quando me machucam eu também sangro
Mas eu preciso fingir que não
Eu preciso ser essa fortaleza impenetrável
Indiferente a tudo quanto é tipo de abalo sísmico
Pessoas inabaláveis, se abalam
Pessoas fortes caem
Fortalezas também se quebram
Então não vamos fingir
que só porque alguém aparenta não sentir dor
Quer dizer que esse alguém não sente
Às vezes nos sentimos tão impotentes
Que precisamos nos convencer que somos grandes fortalezas
Mesmo quando ainda estamos juntando os caquinhos da nossa estrutura
Mas eu não sei lidar com minha vulnerabilidade e nem com esses caquinhos
E com toda a rejeição que meu ser carrega simplesmente por existir
Então eu preciso ser impenetrável de novo
Preciso me defender
Preciso ser assassina a ponto de matar tudo aquilo que me ameaça
O pertencimento é mais que capricho
É uma necessidade daquele que vive
Daquele que existe
E daquele que morre
Então pertençam a si mesmos
Porque quando pertencemos ao nada
A morte nos pertence
-a todos aqueles que querem muito pertencer
- Autor: mars ( Offline)
- Publicado: 30 de junho de 2022 21:47
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 17
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