Sinimbu

As fases da Lua

Você é o Sol. Sempre foi o Sol. Aquele que ilumina todos ao seu redor. Que dá a vida e que faz crescer. E hoje sentado na varanda, com os pensamentos em você eu me peguei admirando a lua. E se você é o meu Sol, então eu sou a Lua.

E eu fiquei pensando nas fases da Lua. E com você eu fui todas elas.

Quando nos encontramos, eu era lua nova. Existia em mim pouco brilho, e muita escuridão.Eu me encontrava vazio, sobrevivendo um dia após o outro. Esses dias você me perguntou sobre o porquê de eu trabalhar tanto? Eu sei a resposta, mas não queria confessar aquele momento. Não queria confessar que era a única coisa que me mantinha de pé. Talvez fosse a fuga de toda a dor e o vazio que eu sinto. É tentar desesperadamente salvar os outros acreditando que talvez seja um modo de me salvar. Talvez você me ache depressivo .... Mas é realmente uma falta de esperança em mim e nas coisas ao meu redor. Eu vivia dentro da minha própria escuridão.

Mas o nosso encontro foi inevitável. Foi muito mais do que um mero acaso. Como diria Maria Gadu: “ Todos os caminhos trilham para a gente se ver ... Todas as trilhas caminham para a gente se encontrar “. E desde o início, eu girava em torno da sua órbita. Nossos campos gravitacionais nos puxavam insistentemente um para o outro. Era inevitável resistir. Foram incontáveis risadas, companheirismo, cafés e a companhia um do outro. Eu não percebia, mas pouco a pouco a minha escuridão ia clareando. Dizem que a paixão é cega, mas eu discordo; a paixão traz luz à escuridão. É como sair de 24 horas de plantão num domingo de manhã e de repente sentir todos os sentidos. Todas as percepções. E sem perceber eu era lua crescente.

A gravidade nos puxava cada vez mais um para o outro. Passávamos mais tempo juntos. E cada vez mais queríamos estar na órbita um do outro. Estávamos sempre juntos. Mesmo em nosso tempo livre. Era como descobrir um novo mundo. Era sentir uma vontade irresistível de estar ao lado um do outro. Muitas vezes inconsciente. Falávamos sobre a vida secreta das árvores, sobre comida (esse era um assunto recorrente), sobre alienígenas, sobre como um meteoro matou todos os dinossauros, falávamos sobre sonhos, sobre futuro e até falávamos sobre amor. Me lembro até de um dia estar andando juntos na rua ,alguém chamou o “ casal”. Eu sorri e dentro de mim aquilo até que não era uma má ideia. Será?

E o inevitável aconteceu, talvez um “ Big Bang”. Talvez o asteroide colidindo com a Terra. Ou só mesmo, o meu coração batendo mais rápido. Mas de fato foi como se uma imensa explosão tivesse acontecido.

 E sem perceber, eu era lua cheia.

 Eu me sentia tão vivo. Mais vivo eu acho do que quando saí do ventre da minha mãe. De repente o mundo se encheu de cores, eu cantava outra vez. Eu cantava todas as músicas que meu coração cantava silenciosamente. Eu me lembro de um dia dizer que estava com frio na barriga antes de te encontrar. Eu me lembro de abrir as janelas do carro para gritar que te amava. E eu me lembro que eu queria fazer muito mais coisas do que só trabalhar. Na verdade, eu por vários dias nem queria trabalhar. Como era bom sentir-se vivo. Como era bom estar cheio. Eu acho que eu fui como aquelas luas que alinhadas aos planetas ou sei lá com a mais perfeita simetria do universo brilharia com um brilho que só ocorria há cada 150 anos.

Mas esse “ alinhamento” cósmico, por descuido se desalinhou. A gravidade que antes nos puxava com toda a sua força, agora parecia nos repelir. Como se um buraco negro pouco a pouco fosse nos sugando. O universo que antes conspirava ao nosso favor agora parecia brincar de nos separar. E como  se numa silenciosa conspiração interplanetária fomos pouco a pouco saindo da órbita um do outro. E novamente eu via aquela escuridão retornar. Sorrateiramente. Como nos pores do sol que tanto amávamos olhar. Lá de mansinho o colorido do céu ia sendo substituído pela escuridão. Lutamos bravamente. Refizemos os cálculos matemáticos e a princípio nem mesmo a distância parecia que iria nos vencer. O brilho dos teus olhos azuis era como o brilho das estrelas no céu.

Mas não resistimos. Fomos “vencidos”; ou quem sabe até “nos deixamos vencer “E novamente eu sou lua nova. Sem o teu brilho para me iluminar, e nem para me aquecer. Acho até que estou como os dinossauros, sim, aqueles do meteoro. Enxergando apenas a escuridão. O ciclo lunar dura exatos 29 dias e meio. (Pelo menos segundo o google). Mas o ciclo da minha “ lua “tem durado bem mais do que 29 dias e meio. Eu não queria ser escuridão. Eu não queria me esconder novamente no trabalho. Eu queria que por descuido o universo errasse novamente os cálculos e que a gravidade nos puxasse novamente um para perto do outro.

Hoje olhando para a Lua, tenho certeza de que você também está olhando para ela. Não sei dizer se você está pensando em mim. Mas eu .... Eu só penso em você.

 

  • Autor: Sinimbu (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 15 de Junho de 2022 11:20
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 16

Comentários1

  • LEIDE FREITAS

    Excelente conto. Adorei as metáforas e toda a saga amorosa não vivida ou vivida de uma forma diferente.

    Boa tarde e até breve!

    • Sinimbu

      muito obrigado.



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