INCONSOLÁVEL

Doloroso

(...)

Alle Uhren bleiben steh'n

(...)

Ich suche dich hinter dem licht

(...)

Ich such dich unter jedem stein

(...)

(Rammstein)

 

Like a garden growin' in flames

A forest filled with fear of the wind

Like the moon so beautiful from afar

But shattered on the surface, full of scars

A sea with no more fish, planets without air

Whales with no more song

I know I'm gonna die with them today

(Marian Gold/Martin Ian Lister/The Outsider)

 

Take a walk outside your mind

Tell me how it feels to be

The one who turns

The knife inside of me

(Joe Perry/Steven Tyler/Desmond Child)

 

Um dia o sol surgiu no oriente

Mas não cruzou o céu.

A luminosidade era vazia

Como as horas que se seguem após o enterro de um filho.

Seu calor queimava na lembrança,

Mas não aquecia o frio da alma.

À noite, a lua havia nascido,

Mas não estava no firmamento.

Mesmo assim, o

luar enchia a noite com sua presença de luz invisível.

No entanto, sua transparência era opaca e sem vida.

As estrelas, milenares, aos milhões,

Brilhavam ocultas em um outro espaço celeste ignorado.

Não faltava nenhuma, mas não havia qualquer uma no abismo universal.

Era assim:o céu repleto, sem astros.

Havia, porém não se via.

Sentia-se, mas não se percebia.

O brilho de todo e qualquer corpo

Era engolido por uma treva que vinha da alma

Petrificada de assombro e torpor.

As tardes frias e de pouca luz

De um inverno que não acabará jamais,

Eram lágrimas sentidas de viúva desamparada,

Que corriam na sarjeta com a inutilidade de uma enxurrada.

As árvores em cores mortas,

Antes uma mortalha que enfeitava uma terra sem vida,

Passaram a ser trapos

Que o vento de um coração que bate sem vida

Faz agitar fantasmagóricos nos varais do olhar.

O frio e a penumbra que César trouxera

Lançavam sombrias suspeitas

De que a música sumira do ar,

Evaporara do mundo,

Deixando nos ouvidos o silêncio barulhento do desprezo.

As aves em vôos perdidos iam em direções infinitas...

De perdas infinitas, do irretornável sem fim.

Um precipício no qual cabia todo o universo e todas as eras

Ocupava o espaço dos metros

Outrora consagrado às flores do mundo inteiro

E seus perfumes que paralisavam os olhos e agitavam os devaneios.

As borboletas incrivelmente retrocederam a lagartas

E dissolveram no concreto das calçadas.

As cores de suas asas enfeitam o céu

Dos pensamentos e lembranças,

Mas não abrandam o amargor da tristeza.

O cair da tarde, a ascensão da noite,

Antes precediam o mistério envolto em sonhos,

Mas agora, vagando por um caminho de espinhos,

Antecedem um espetáculo de repulsivo pesadelos.

A chuva ainda era fria e indiferente,

Mas sua tristeza, antes doce de mornas desilusões,

Mudara para amargos pensamentos e agonia.

Cada pingo era uma dor especialmente enviada do Céu,

O aplicado incubador mor de todos os sofrimentos presentes e futuros.

O alvorecer que trazia tantas penas

Pagas uma a uma com disciplina monástica,

Agora desaba pesadamente

Soterrando com a lama do irremediável um pranto puro de decepção.

O oxigênio perambula desconsolado pela cidade;

O ar é contaminado pelo fedor

de Deus.

Agora é a ausência quem passeia livremente

Proibindo sorrisos, destruindo sonhos que já não tinham permissão para existir.

É a ausência quem libertou a melancolia

E tirou tudo das ruas e praças:

Os cães, os mendigos, as quimeras...

Antes, tudo era um desfile de tanta coisa

Cujo sentido não cabia em nenhuma compreensão conhecida...

Agora, esperar na calçada é aguardar o cortejo do nada,

Sonhar que se guarda toda névoa da amargura dentro de um saco.

As ruas ainda estão repletas de pessoas e sentimentos,

Como o céu ainda está carregado de astros.

Mas todos agora são desconhecidos,

E o sentir é uma mágoa que toma conta

Como a morte abraça eternamente um corpo sem vida

Promovendo-o a cadáver.

  • Autor: Doloroso (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 11 de junho de 2022 09:03
  • Comentário do autor sobre o poema: Este texto é o sétimo dos oito que compõem o projeto A JANELA (TRISTE E ENIGMÁTICO).
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 9


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