Nunca foi tão difícil respirar
O ar entra, em meus pulmões cansados, como ácido
Vai corroendo-me constantemente
Leves lembranças me recorrem
Leves problemas me cercam
A leveza se tornou algo comum agora
Talvez seja essa ferida na alma
Ou os cortes em meu pulso
A culpa não foi sua, não foi minha
Foi apenas da vida
Por não ter me preparado antes
Lutei para vir a este mundo
E continuo lutando para fugir dele
Lágrimas rotineiras
Cartas sem endereço
Espelhos sem reflexos
Coração vazio e ferido
Sorrateiramente me arrasto pelos corredores
Ingenuamente forço um sorriso
Tudo não passa de mentiras mal contadas por mim
A leve fragrância da morte senti
Tentei correr por todas as direções possíveis
Mas meus pés estavam presos
Em lembranças corroídas por traças famintas
O labirinto é enorme
As vítimas são poucas
A vítima sou Eu!
Sou vítima dos meus próprios desejos e sonhos
Sou vítima do seu calor e do seu toque
Sou vítima da falta do seu afeto
Sou vítima de mim mesmo
Da minha imaginação
E quem vive a se partir é o meu coração
Silêncio, vazio, escuridão
Fazem muito barulho
Quando estou caído em meus pensamentos
Cheguei quase no limite da prancha
O mar estava bravio
E centenas de tubarões cercavam o navio
O medo de ficar naquele barco
Era maior do que o de me entregar àqueles seres famintos
Minha pele, minha alma, meu corpo
Estavam quase que sumindo no espaço
Podia se ouvir o eco da sua voz

Toda vez que eu fechava os olhos
Por quanto tempo terei que esconder isso?
Há um espaço muito grande
Entre minha felicidade e as minhas feridas
Mas sempre alguém ousa toca-las
E instantaneamente meu estado de alegria se evapora
Se dissolve como açúcar em água
O sol há de me engolir
A dor há de me ferir
Mas sentirei meu corpo em chamas
Quando os seus lábios me tocarem
Flechas hão de me transpassar
O fogo dos incrédulos há de me queimar
Mas as minhas lágrimas limparão essas chagas
O ódio dos meus amigos irão me aniquilar
Vitimizado correrei ás montanhas
Mas lá não haverá ninguém
Ninguém para me ouvir
Ninguém para me salvar
Estarei tão sujo por causa desse mundo imundo
Estarei tão fraco por causa das pedradas
Verão em mim as marcas mais profundas
Que alguém já conseguiu fazer com o seu próprio falar
E apenas palavras não irão adiantar
Pois foram com elas que me feriram
O céu está em trevas
O sol escureceu
O amor inocente que em mim existia
Por fim faleceu.