Richard

A ferida do egresso

 

Minha nossa, mas o que é isso em mim? Não está muito para um hematoma apenas, desconheço o motivo dessa aparição. Ainda mais que eu não bati meu peito em lugar nenhum, eu sentiria, pelo menos acho.
Estou esquecida de mim e creio também que na mente de todos, só esse quarto frio é aconchegante com seu calor, mas algo que me deixa aterrorizada, é que todas as vezes que entro e mortifico-me como sempre, essa mancha fica maior, mais e mais, tomando todo meu peito para si e formando como uma mão estrangulando meu pescoço, as vezes sentindo asfixia em pensar em mostrar a "verdade"! Algo que percebi é que não exala o odor, mesmo sendo o suficiente para causar fortes ânsias e mais ninguém vê, só eu, eu vejo essa podridão que está crescendo com aparência de sangue e lama coagulados, deixando nada fugir. O problema é o sentimento inesplicável de vulnerabilidade, está fazendo-me pensar na hipótese de estar sim a amostra para todos, não, não pode ser real, só eu matava pela desgraça mas a incerteza é que sempre esteve a mostra para todos, eles sabiam.
Aconteceu o amadurecimento ingênuino, cresceu comigo e ficou grande o suficiente para abafar meus gritos internos! Meu silêncio era como se estivessem espetando meu peito com agulhadas e hoje sou dominada por um certo vazio excruciante, isso me distânciava deles, não, eu era a culpada por tudo e apenas escolhi de guardar para mim, ninguém era capaz de ajudar-me.
Quando voltei a desgracenta realidade, me vejo em uma cama sem poder mexer um músculo sequer, estava enrijecida e só poderia esperar friamente a miséria consumir-me junto com a... 
Repentinamente a mamãe aparece com seus cabelos negros e seus belissímo vestido preto fosco, estendendo-me suas mãos quente que acolhia-me por completa e seu toque, era alívio instantâneo, com isso tudo ficava mais leve e todo peso do peito some, a mancha que me.assombrava noite e dia foi derrentendo e se mostrando o mais lindo puro sangue. Desconheço o motivo, mas falo por horas sem interrupções sequer, um sorriso no meu rosto nasce junto com lagrímas que não doem quando escorre, atinjo um ponto além da felicidade incondicional, o meu ansejo por paz. A mamãe não faz nada além de ouvir atenciosamente, cada palavra, cada erro, tudo, ela escuta e guarda para si e não julga-me, está aqui para conforta-me. Ela está carregando-me nos braços, é divino, olho para trás e vejo meu corpo fétido se despedaçando com minha própria escuridão, não posso se sentir orgulhosa, porém conseguir esconder até o dia de minha morte. Por que eu não consegui me expor antes para a minha mamãe verdadeira? 
Penso sobre mas logo estarei bebendo do rio Lete e despeço-me de mim mesmo, onde ele estará ali para sempre vivo e morto ao mesmo tempo. 
Obrigado mamãe por levar minha alma e acabar com minha solidão, estarei sempre contigo mors. 

"A duas certezas na vida. A morte e a solidão"

  • Autor: Richard (Offline Offline)
  • Publicado: 16 de Março de 2022 13:03
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 22


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