O MEU ULTIMO SORRISO

Itamar FS


Então é isso... A sede etérica me devora!
À mesa, todas as mágoas são fiéis,
Nunca me deixam só, e em seus cordéis
Eu sou o opúsculo enredo da derrota.

Levanto, encaro o mundo a minha volta:
É tão deserto; - uma só alma entre revéis
Agonias êmulas à despojar lauréis...
_Até na morte hão de ser a minha escolta!

Que desgraça veio mim... Miseráveis,
Que mal vos fiz, pra magoar-me assim,
Aqui, à frieza das extremidades?! De mim
Me resta apenas choro e dor - intermináveis!

Silenciai-me, agora, ó dias de amargura!
Arrasta a minha singular alegoria
Às profundezas, e ali, em agonia,
Torna esquecida a minh'alma abstrusa! 

Qu'importa a mim, roer-me a criatura
Toda a matéria insólita, podre, fria,
Se rói-me, agora, tão insana e baldia 
Traça voraz, sorvendo-me a quentura?!

Qu'importa a mim morrer desses tormentos
Obscuros de uma vida condenada,
Se só o mal, com sua estória inacabada, 
Refulge às frestas dos meus ferimentos?!

_ Então:

Que dancem frenéticos os fâmulos dançarinos;
Que façam em mim as suas festas sem misérias;
Que comam-me a carne, dissolvam-me as artérias:
Pois só assim hei de mostrar-lhes meus caninos!

Itamar FS

Instagram: > @itamar.fs_escritor

  • Autor: Itamar FS (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 5 de março de 2022 22:33
  • Comentário do autor sobre o poema: Poema que mostra a conformidade do fim para uma Existência distópica, na ótica do Eu lírico.
  • Categoria: Gótico
  • Visualizações: 14
Comentários +

Comentários2

  • Hébron

    Interessantíssimo!
    Abraço, poeta

  • Edla Marinho

    Bom dia poeta.
    Interessante mesmo, poetizar sobre essa conformidade.
    Feliz domingo!



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