As coisas não são o que são,

porque é ilação.

As pessoas não prestam atenção,

porque há tensão.

 

Ditas verdades são construídas,

encima de mentiras aceitas,

mentiras são transformadas,

em verdades mais que perfeitas.

Não há espaço para o uso,

da razão e do explicar,

tudo tem que ser eliminado,

nada pode nem se deve replicar.

 

As coisas não são o que são,

porque é ilação.

As pessoas não prestam atenção,

porque há tensão.

 

O contra virou reação,

de adversidade não reagente,

quem se opor deixa de ser,

de ser considerada gente.

Assim o meio impele o fim,

e a certeza é uma mera negação,

justiça virou sinônimo de poder impoluto,

que impõe o pulso na admoestação.

 

As coisas não são o que são

porque é ilação.

As pessoas não prestam atenção

porque há tensão.

 

A serena idade não tem mais serenidade,

e o doar virou piada em desjejum,

a fortaleza é só da forte realeza,

pois onde cabiam dois não cabe nem mais um.

Os tempos idos são estampidos,

que o sorriso tirou da face,

sem piedade e nenhum pudor.

A voz comando não tem mais paternidade,

perdeu sua origem sistêmica e biológica,

ser humano é um adjetivo, sujeito sem valor.

 

As coisas não são o que são,

porque é ilação.

As pessoas não prestam atenção,

porque há tensão.