Salso Chorão
Um dia me trouxeste um vestido caro,
cor de carmim e com laço dourado,
fiquei emocionada com presente tão raro,
que de tão fino que era já veio perfumado.
O que sempre ficou na minha lembrança,
foi quando me deste um anel de noivado,
disseste que de tua idosa mãe fora herança,
por isso ele já estava gasto e arranhado.
De tão feliz que fiquei esqueci do fato
que já tinhas contado que ainda bebezinho
tu foras deixado na porta de um orfanato
numa caixa sem bilhete e cresceras sozinho.
Tua dedicação por mim é um encanto
mas sempre por ti ficava preocupada,
por teres que a toda hora viajar tanto,
trabalhavas em fins de semana e de madrugada.
Em um ensolarado dia que me sentia vazia,
sozinha e angustiada resolvi sair e caminhar,
infeliz porque não tinha tua companhia,
aguardava o teu retorno para a saudade passar.
Mas tive uma visão que da memória não sai,
foi num domingo no Parque da Redenção
que te vi com uma criança que te chamava de pai,
abraçado com uma mulher com uma aliança na mão.
Atrás de uma árvore fiquei escondida,
observando ainda incrédula e aturdida,
e em silêncio no salgueiro triste me apoiei,
abraçada ao seu tronco áspero eu também chorei.
- Autor: Altofe (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 19 de fevereiro de 2022 13:34
- Comentário do autor sobre o poema: Poema ambientado em Porto Alegre em 1968.
- Categoria: Amor
- Visualizações: 43
Comentários1
Bueno barbaridade. Parabéns, poeta. Buda estava certo ao ensinar sobre o desapego. Nestas horas, tchê, o ideal é dizer "eu me amo e está tudo bem" Baita abraço.
É bem verdade, caro poeta. Obrigado pelo apreço. Abs.
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