Diz o provérbio popular, cada doido com sua mania. Sobre ele, grande parte dos atores sociais constrói uma prenoção sobre a configuração daqueles sujeitos que por uma construção social expõe lampejos de uma suposta "loucura".
Pois bem, vamos aos fatos. Na rua onde moro, todas as manhãs tenho registrado a presença de um sujeito conhecido por "Ciço doido ou cabo Ciço", que passa logo cedinho para o centro da cidade e, em ato continuo retorna ao meio dia expondo um comportamento peculiar a qualquer indivíduo em ritmo de trabalho.
Porém, nos últimos dias tenho observado que ao voltar de seu passeio matinal, aquele sujeito apresenta um comportamento alheio ao que se denota durante as manhãs quando volta visivelmente embriagado e proferindo palavras não condizentes à sua aparente realidade. Em voz alta dizendo: "É pra matar ou pra morrer". Entre outras... Assustando transeuntes, moradores e crianças que subjetivam aquela suposta "loucura" como sendo um perigo iminente.
- Em outro momento encontrei-o a chorar contrito em seu íntimo.
Aquilo desperta-me curiosidade em desvelar sua aflição ou talvez sua "loucura".
No entanto me deparava com um grande obstáculo, que seria como aborda-lo de maneira a não ferir seus sentimentos, sejam eles quais forem.
E para minha felicidade, naquela manhã ele ao ver-me de fronte minha própria casa parou e fitou-me o olhar com profundidade e um aterrorizante silêncio. O que muito me assustou é fato!
Porem me facultou o poder indaga-lo. E assim o fiz.
- Olá Ciço tudo bem?
Sobre o mesmo silêncio ele caminha até minha pessoa cabisbaixa, e ao erguer a cabeça me pede algo para comer. De pronto, peguei alguns pães, bananas e uma xícara de café. Convidei-o a entrar, e ainda emudecido sentou-se à calçada, rapidamente comeu e saiu.
Diante de singular comportamento, confesso só me fez substanciar minha curiosidade em saber por que aquele indivíduo apresentava comportamento arredio e de tamanho sofrimento, e por que era entendido como doido?
Dias depois resolvi segui-lo até sua residência que não ficava tão distante e, ao vê-lo entrar logo percebi que não havia trancas em sua porta e logo se ouvia seus gritos de revolta e alguns palavrões. Em seguida, clamava pelo filho enquanto chorava copiosamente.
Fiquei estarrecido com aquela cena e resolvi procurar a vizinhança que logo disseram: - - Ah! Isso é assim todos os dias! Já estamos acostumados.
Depois que a mulher lhe deixou, perdeu o emprego e o filho se envolveu com drogas ele ficou assim.
Logo descobri que ele gostava de frequentar a barraca do Elói que fica de fronte ao estádio de futebol aonde ele ia todos os dias quando passava pela minha casa.
E diz-se de um lugar pitoresco, ou um pequeno bar aonde os viciados se encontram para se socializarem, e que, só ali, ele se encontra enquanto ser. Segundo o próprio.
Em suma - A loucura e seus loucos, nada mais é que uma construção social objetivada por aqueles indivíduos cujo sentimento é segregar àqueles que não apresentam à sociedade um padrão de comportamento condizente com suas aspirações. E que se apresentam como exóticos, estranhos e esquisitos.
Seja do ponto de vista físico ou intelectual. A fim de demarcar sobre essas minorias uma relação de poder repressora e dominante.
Sei que o papo está um tanto quanto depressivo. Vou colocar um ponto por aqui. Aproveitando para me encontrar com meu também louco sensato e degustarmos um cafezinho sociológico, diga-se de passagem, sem açucares.
- Autor: Nicola Vital (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 19 de fevereiro de 2022 12:29
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 10
Comentários1
Crônica da realidade de muitas pessoas aqui no nosso país.
Boa tarde!
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.