Ego

Em um mundo perfeito eu não seria perfeito.
Nesse mundo eu seria o único e digno prefeito.
Governaria nações, países e todas as populações.
Dar-lhe-ia uma coroa de platina para te contemplar.
Beijar-te-ia todo começo dia ao acordar e te olhar.
Compraria uma mansão para ostentar meu dinheiro.
Um perfume que nunca usaria em razão do cheiro.
Beijar-te-ia, mas não por causa daquele beijo.
Porque isso para mim é só mais um elemento.
Do qual pouco importa, mas que abre a porta.
Para eu sussurrar no seu ouvido coisas impuras.
Para te fazer sentir o coração acelerar e gritar.
Mas isso não seria importante, não, não seria.

Em um mundo perfeito eu teria defeitos.
Porque o excesso de vitórias me cegou.
Julgando ser o melhor que já passou na terra.
Mas seria só mais um merda, fazendo merda.
Nesse mundo eu não hesitaria ao teu lado.
E viver não seria um fardo, pois sou um bardo.
O fardo do poeta não seria nada ruim.
Você não mentiria sobre o passado.
E eu não teria malditas pedras no rim.
Eu não seria só mais um arrombado.
Eu te manteria ao meu lado, meu lado.
Escrever-te-ia um poema só nosso.
E sim posso, mas não posso.
Mas o que é importante?

Em um mundo perfeito eu teria defeitos.
Falaria abertamente sobre meus vícios.
Não choraria por ainda ter os resquícios.
Da insegurança que carrego nos ombros.
Das palavras que falaram sem cansar.
Dos olhares que tanto me magoaram.
Nesse mundo eu não usaria uma máscara.
E aceitaria que alguém pode me amar.
Dormiria feliz por finalmente não me odiar.
E seria o mais extrovertido, com atitude.
Aceitaria seu amor sem me preocupar.
Não sentiria falta de ar mesmo em alta altitude.
Queimaria a minha essência sem fraquejar.
Diria aos meus amigos que amo a todos.
Antes que estivessem todos eles mortos.

Em um mundo normal eu desisto.
Porque sou assim, muito quieto.
E quem quer alguém assim por perto?
Não mudarei, eu sei desde o feto.
Nesse mundo eu sou assim.
Sem mentir ou exagerar.
Sem disfarçar ou enganar.
E esse é o Cardoso.