MOÇÃO DE CABOCO

José Cyrino

Eu não deixo a minha terra

pela terra de ninguém

aqui eu tenho de tudo 

tenho coisas que ninguém tem

 

Tenho toda a água do mundo

tenho todo o peixe do rio

tenho ovos de bicho cascudo

pro arabu e pro mujamgué

tenho a farinha de mandioca

pra engrossar o meu chibé

 

Tenho a bôta nos dias de cio

tenho o cio também de mulher

tenho todos os remédios do mato

tenho a cura do Santo Pajé

 

Tenho tempo pro remanso

tenho tempo pra trabalhar

tenho rede pra dar o lanço

tenho rede pra descansar

 

Sou caboco do beiço roxo

tenho rachaduras no pé

perebas no tornozelo

tatugens de carapanã

tenho o meu panavueiro

e minha roxa cunhantã

 

Jamais deixaria minha terra

jamais minha raiz cortaria

sou filho das teogonias

sou titã da mãe natureza 

sou filho da sua harmonia 

sou fruto da sua beleza

 

Nasci da raiz da floresta

aqui a minha vida se infesta

e aqui ela vai acabar

eu não deixo a minha terra

porque na palavra caboca

aquele que vem do paú

ao paú voltará 

  • Autor: José Cyrino (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de maio de 2020 15:22
  • Comentário do autor sobre o poema: Um poema que busca expressar o ethos do caboclo amazônico
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 35
Comentários +

Comentários2

  • Gislaine Oliveira

    Eu gostei muito do seu texto, achei super rico, em conteúdo e forma. E expressa um enorme sentimento ao lugar de onde vem...

  • José Cyrino

    Obrigado, Gislaine.



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