Eu não deixo a minha terra
pela terra de ninguém
aqui eu tenho de tudo
tenho coisas que ninguém tem
Tenho toda a água do mundo
tenho todo o peixe do rio
tenho ovos de bicho cascudo
pro arabu e pro mujamgué
tenho a farinha de mandioca
pra engrossar o meu chibé
Tenho a bôta nos dias de cio
tenho o cio também de mulher
tenho todos os remédios do mato
tenho a cura do Santo Pajé
Tenho tempo pro remanso
tenho tempo pra trabalhar
tenho rede pra dar o lanço
tenho rede pra descansar
Sou caboco do beiço roxo
tenho rachaduras no pé
perebas no tornozelo
tatugens de carapanã
tenho o meu panavueiro
e minha roxa cunhantã
Jamais deixaria minha terra
jamais minha raiz cortaria
sou filho das teogonias
sou titã da mãe natureza
sou filho da sua harmonia
sou fruto da sua beleza
Nasci da raiz da floresta
aqui a minha vida se infesta
e aqui ela vai acabar
eu não deixo a minha terra
porque na palavra caboca
aquele que vem do paú
ao paú voltará
- Autor: José Cyrino (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 24 de maio de 2020 15:22
- Comentário do autor sobre o poema: Um poema que busca expressar o ethos do caboclo amazônico
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 35
Comentários2
Eu gostei muito do seu texto, achei super rico, em conteúdo e forma. E expressa um enorme sentimento ao lugar de onde vem...
Obrigado, Gislaine.
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