Lembra amigo quando corríamos pelas estradas de Ecoporanga?
Brincávamos de pique, de bola e de fazer história?
Você sempre inventava histórias comoventes.
De um certo povo que foi violentado pela ganância de muitos grileiros
A cidade produtora, após muitas brigas de terra, ficou somente muitas mulheres e homens doentes
Doentes pelas perdas, doentes de amor,
Famílias destruídas
Era tamanha dor
Dizia você, querendo me convencer que tamanha maldade um dia aconteceu naquela cidade
Ahh amigo meu, não creio nisso não
O homem é de bom coração
Até que um dia ele me levou na casa de dona Isaura
Moradora antiga, trazia no peito um crucifixo
Dizia ela: trago comigo Jesus ensanguentado na cruz
Assim como meu povo foi violentado em sua própria terra
Jesus venceu a morte,
meu povo lutou contra a brutalidade de gente de fora
Sangue derramado, sangue sagrado
Quando ouvi a senhora Isaura, senti um arrepio
Vi um vulto passar por trás da janela
Como seria, uma cidade de gente do bem
Virar palco de coisas do além?
A senhora Isaura se pôs a falar, nem era preciso perguntar.
Falava de tudo, falava com a alma
Até que em certo momento, engoliu seco e contou como seus pais foram exterminados
Uma tarde, após um dia de lida na lavoura seus pais recolheram os instrumentos daquela labuta
Sem esperar foram atacados sem a chance de se defender.
A mãe largou Isaura, ainda bebê embaixo de um pé de café
Único jeito de evitar, que aquela menina sofresse alguma dor
A irmã de Isaura, adolescente que trabalhou junto com os pais pegou Isaura e saiu a correr
Os pais de Isaura, foram mortos com muitos golpes
Era uma gritaria, muito tiroteio, era gente correndo, gente esticada no chão, dando os últimos suspiros
Virou Isaura pra mim: olha menina não tenha medo dos mortos, tenha medo dos vivos
Os vivos mataram muitos companheiros
Da minha família só sobrou eu, minha irmã e um tio.
O restante todos viraram comidas de formigas.
Eu com medo daquele lugar, chamei meu amigo para ir embora
Mas ele trazia em si o grande desejo de conhecer as histórias daquela cidade
Eu só pensava nas almas, de cada pessoa sofrida
Sentia cheiro de sangue
Ouvia gritos naquele lugar silencioso,
gritos de gente sofrida
Eu sentia, ouvia e via pessoas ali.
Dona Isaura olhou pra mim e me disse com propriedade que ela sabia que eu estava vendo.
Não tenha medo menina, são apenas almas ainda sofridas
Precisavam de prece, somente isso
Pois até o momento não tinham se conformado com a retirada de suas vidas, por homens cruéis
Sem saber o que falar, apenas a olhei e disse um Amém.
Amigo, acho que por hoje está bom
Voltaremos outro dia para mais prosear com dona Isaura.
Os dois adolescentes se despediram e seguiram a sua caminhada
Eis que sem entender, viram um casal a lhes estender as mãos
Eram eles, pais de Isaura que nos agradeceram pela visita feita a sua filha amada
Após aquele dia, nunca mais duvidei do meu amigo e muito mais respeitei aquele lugar
Hoje com meus 89 anos anos reverencio aquela cidade
Cotaxé, este é seu nome de muitas Ana e José
Gente de muita Fé
Por: Mônica Souza
- Autor: Mony (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 19 de janeiro de 2022 15:00
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 10
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