Carlos Lucena

Me diga, José

Me diga aí, José

Me diga como será

Me diga como fazer

Se o mundo parou

Se a luz está fraca

Se não há mais encontro

Se a noite é fantasma

Me diga, José

Me diga, você

Você que tem fome

Você que tem nome

Você que trabalha

Que abraça 

E que beija

Mas amar ja não pode?

Está sem sorrir

Está sem falar

Na cama sem beijo

Beber é perigo

Um cigarro  é fatal!

Não se pode mais nada

Sonhar já não pode

Esperar também não

Não se vê um sorriso

Me diga, José?

Me diga, José

Onde está o carinho

Calor já não tem

Nem um instante de frio

Nem um cinema aberto

Nem um café pra beber.

Uma luz pra acender

Um passeio na praça

Tudo parou

Tudo calou

Me diga, José?

E a chave? E a porta?

A chave se tem

A porta também

A porta existe

A chave existe

Só não pode abrir.

Ninguém quer morrer

Querem ver o mar

O mar está cheio

O mar não secou

Está logo ali

Me diga, José?

Ninguém quer morrer

Ninguém quer gemer

Todos querem sorrir

Todos querem dançar

Todos querem brincar

Brincar com o sol

Brincar com a lua...

Ninguém quer morrer

Ninguém quer parar, José!

Tem que ter luz

Gente precisa de luz

Gente precisa de fé

Ninguém quer fugir

Todos querem ficar

Todos querem marchar

Sabia,José?

 

 

  • Autor: Carlos (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 19 de Maio de 2020 08:21
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 38

Comentários2

  • Maria Vanda Medeiros de Araujo

    Uma super intertextualidade! Com enredo atual e o uso de linguagem simples e compreensível.

    • Carlos Lucena

      Obrigado pelo comentário.

    • Rafael Marinho

      Também gostei muito do diálogo com o E agora José, de Drummond. O contexto histórico do poema era exatamente de incertezas quanto ao futuro causado por uma crise mundial. Muito boa essa ligação. Um acerto e tanto.

      • Carlos Lucena

        Obrigado pelo comentário



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