Marçal de Oliveira Huoya

Guardiã

Era uma pura alma

Cega, muda e surda

Tentavam lhe explicar com calma

Explicaram tanto

Mas ela não queria, não precisava de ajuda

Foi assim e pronto

Como ela não lia

Pois quem lia era pedante

Acreditava em tudo que lhe diziam

O que ela acreditava era muito mais importante

Pois sua verdade era a sua crença

E se discordavam, era radical e dura

Enunciava fria a sua sentença

E lá se ia toda sua doçura

Falava com cristalina propriedade

Daquilo que nunca havia vivido

Seja por ainda não ter nascido

Ou por não ter idade

Se mostrava muito segura

Pois lhe contaram, e assim havia acontecido

Deram-lhe livros, mas não leu

Perda de tempo

Afinal sabia tudo por seu próprio pensamento

Exatamente como a teia se teceu

Os maus eram os outros

Os bons foram poucos

E foram os seus

Suas preces eram prazerosos bordões

Repetidos e decorados

A sua, nua e crua,

A mais perfeita das religiões...

  • Autor: Vênus (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de Novembro de 2021 21:58
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 13


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.