Penso as vezes que a culpa foi minha de me consumir sem tentar, porque sempre dizem que não pedi ajuda, que não clamei por um socorro 

e eu pensei que realmente, talvez eu não tenha pedido o suficiente, mas não, eu tentei, eu gritei até minha garganta doer e minhas cordas vocais ameaçarem arrebentar 

eu clamei por uma ajuda de todas as formas possíveis e ninguém ajudou, ninguém viu, porque eles não conseguem, não conseguem enxergar o outro se despedaçando nele mesmo.

eles se recusam a ouvir, dói mais neles em ouvir do que em mim de falar , dói neles porque quebrei a regra, a regra de fingir, de agir como se minha alma ainda estivesse aqui. 

ela estava saindo, sabe minha alma? eu respirava e um pouco de mim escorria pelas minhas narinas quase competindo em quantidade com o gás carbono que meu corpo libera 

eu gritei para me salvarem eu chorei por misericórdia e não funcionou, não funcionou porque as pessoas estão ocupadas de mais para notar, drogadas de mais nesse vicioso ciclo de perfeição, não tem tempo suficiente para me ouvir falar, para me ver chorar

e se o fizerem surtam, porque como ? como pode alguém está se perdendo assim ? eles ignoram como se o problema fosse sumir, mas quem some aos poucos sou eu 

sabe quem me vê ? sabe quem enxergar esses desaparecidos ? 

outros perdidos, são eles, eles se enxergam porque ninguém os escuta também, porque eles quebraram  a regra assim como você, sou um deles, cato meus pedaços e tento catar os seus junto, só que assim não funciona, não funciona porque é de mais, não consigo carregar todos esses pedaços

sabe, mesmo que eu grite, que ajuda eu teria ? ninguém pode me carregar, ninguém pode me impedir de me quebrar 

oque eu queria era apenas parar de fingir, para ver se assim consigo sentir, mas ajuda ? não tem como.

Eu não posso carregar você se nem o peso de meu cérebro estou conseguindo suportar ultimamente, não tem como te ajudar não tem como te salvar

tenho como te enxergar porque se salvar só você pode, mas posso te ver, isso posso fazer, posso assisti-la se juntar em montes e se reestruturar, posso te dar a permissão para sentir dor a permissão para chorar de horror.

ninguém te ensinou não é mesmo ? ninguém te ensinou que na verdade você que tem que resistir, que no fundo ninguém pode faze-lo por você, você se confunde porque nos ensinaram a fingir, apenas a manter as aparências, a não clamar por socorro porque isso é ser fraco

clame por socorro clame como se você dependesse disso para respirar, a ajuda que você quer é atenção alguém que não tampe sua boca e invalide sua dor, alguém que quebre regras se isso significa resistir e continuar vivo, alguém que te escute que te acolha, e essa pessoa não existe 

se você pensa assim, então ela ainda não existe 

vou te contar algo muito obscuro que já deveriam ter te falado, mas não falam sabe eles não querem contar a ninguém então eu vou contar 

essa pessoa ainda não existe porque ela é você mesmo, faça existir então, agora você sabe não é ? porque não dá para eu carregar seus pedaços ou costurar seus buracos, só você pode, você tem que ser essa pessoa para você mesmo tem que fazer isso por você, tem que remendar aquilo que precisa ser remendado aceitar as falhas que não pode tampar com remendos e amar as cicatrizes que cravam não só a pele mas a alma  

se taparem sua boca e te impedirem de gritar então escreva, se roubarem suas canetas então chore se roubarem suas lágrimas então crave em sua pele, arranque com suas próprias unhas mas não desista, não agora, diga com palavras com textos com oque você tiver e se você só tem a si mesmo então seja sua salvação você tem que ser, ninguém é herói somos mais  para telespectadores de um show de horrores, porque aqueles que dizem ser salvadores são mentirosos, não tem como salvar alguém se este não quer ser salvo.

-a todos aqueles que me enxergam o suficiente, que assistem eu desabar sem me impedir de chorar