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Morte em vida.

Sozinho na escuridão, a porta do esconderijo se abria, com força. Suas mãos tremiam, suas pernas não aguentavam o próprio peso.            

O homem diante de si, sangue de seu sangue, parecia trazer a morte consigo. O líquido carmesim de seus convidados escorria daquelas presas pontiagudas.
Era um fantasma trajado na mais negra e impura impiedade.

Sem sombra no espelho oval pendurado na parede, era nítida a falta de vida em seu corpo pálido e cinza.

"Está na hora de sangrar" suas palavras atingiram em cheio os ouvidos do ser caído ao chão, encolhido entre seus medos e incertezas.

A loucura havia tomado conta; agora era uma mente diabólica, possuída pelo rancor à aquela que, por poucos minutos, fora parte de sua família.

"Por que, por que a tiraste de mim…, Strahd" cego, não percebia o que realmente acontecia diante de seus olhos castanhos claros. Seu coração, seu pensamento, tudo, tudo era sobre ela, sua amada Tatyana. 

Que, depois de uma grande revolta do ser não humano diante de si, passou a fazer parte das lajotas do piso, após ser desmembrada em diversos pedaços, estampando o quanto a loucura do monstro à sua frente era infindável.

Seu belo vestido de noiva se tornara nada mais do que um pano rasgado. O véu, emaranha-se em volta de seu pescoço decapitado.

Horror era a única coisa que fluía através das veias do rapaz amedrontado, ao ouvir os gemidos de prazer de quem um dia fora alguém querido.

"Porque ela nunca te pertencera" de longos cabelos negros, a poucos passos de distância, a criatura gargalhou ao proferir tal frase, a qual prendera por anos em sua garganta.

Ele não sentia remorso algum por ter matado o amor de sua vida. Junto da pequena vila que o largara doente, só, num castelo onde diziam residir o mal no seu estado mais puro.

Mesmo com receio e deixado para ser comido pelos vermes, tornar-se aquele que anda de noite era a única forma de se vingar de cada um que o abandonou em companhia da solidão, e do demônio antigo que residia num caixão, adormecido por antigos cristões cegos com a certeza de que ali se encontrava Lúcifer.

Não, o anjo caído era aquela mulher loira, de lábios carnudos e alma imaculada; mulher que o seduziu com preocupações para consigo.

Contudo, sabia, sabia, no mais profundo interior de seu coração morto, que tudo era somente ilusão de sua mente perturbada.

Velho, rejeitado, apodrecendo numa cama, era tudo pena. Até que, num surto de dizer que a amava,  a população se revoltara.

"Mentiroso, finge estar morrendo para que possa se aproveitar de inocentes!".

"Alma suja, queime no inferno!".

Entre gritos silenciosos, ele o fizera. Arrancou a carne de seus ossos, os olhos de suas cavidades, os sentimentos de seu peito, junto de qualquer compaixão que pudesse ali permanecer.

Menos o amor que o queimava por dentro, e alimentava seu ódio, o amor que dedicara por anos à Tatyana.

Renascido das chamas, estava na hora de levar a alma do último sobrevivente de sua chacina: seu irmão, Sergei.

"Eu te amo, oh último resquício do amor entre nossos pais, mas está na hora de cairmos, juntos, na dolorosa eternidade".

  • Autor: Zero (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 26 de Outubro de 2021 23:28
  • Comentário do autor sobre o poema: Poema feito para o projeto Curse of Strahd. Rpg. Dnd ravenloft de @hasenartlife
  • Categoria: Conto
  • Visualizações: 37

Comentários2

  • Shmuel

    Parabéns, um trabalho e tanto.
    Abraços!

  • LEIDE FREITAS

    É um conto excelente.
    Parabéns!



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