Sóbrio

Pés rasos tocam o chão 

Tirando o chinelo 

Andando descalço 

Viatura no encalço

Apenas crianças 

Brincando de ser 

Homens de aço 

Virando os copos 

Mexendo os corpos 

Ela não é Rapunzel 

Mas balança os cabelos 

Fica com os mais belos

Nessa vida ganha

Os mais espertos 

Mãos que se apertam 

Corpos que se afagam 

De mãos dadas 

Correndo na quebrada 

Criança que cresce na periferia 

Cresce prendada 

Não sabe da vida adulta 

Mas sabe escapar da bala 

Aprende que conexões a salva 

Os pais alheios ao mundo de terror 

Mas quando a droga entra na escola 

Elas sabem que acabou 

Se eu dançar a próxima música 

Vamos fazer sair faísca 

Se não tiver peso literário 

Preso, carcerário 

Parece tão errado?

Eles não gostam 

Quando os versos são pesados 

E julgam o nosso palavreado 

Se eles se armam de fatos

Nós nós armamos de vivência 

É que argumentos se inventa 

Mas sentir na pele faz diferença 

Se o Bob voltou 

Eu quero estar preparada 

Fechar com quem fechou comigo 

Saber quem é meu amigo 

O flow de trap está me seduzindo 

Eu quero dançar segundo o beat 

Vamos seguir no hit 

Eles vão dizer que não tem letra 

Esses eu preciso que evite 

Não enxergaram a realidade nas linhas 

É que eles querem verdades 

Com maquiagem 

Mas quando a droga é ingerida 

Não tem maquiagem que salve 

Eu tô na euforia lúcida 

Das palavras jogadas 

Cuspidas não, escarradas! 

Eu quase derramei minha alma 

Mas não é de alma 

Que se forma poesia 

Eles querem hipocrisia

Se você é sincero 

Eles não leem com esmero 

Eu posso acariciar seus ouvidos 

Mas não quero lidar com o prejuízo 

Só vou dormir a noite 

Se eu liberar o veneno 

Seja verdade ou mentira

Só preciso que saia da minha mente 

Só vou dormir a noite 

Se as palavras forem queimadas 

Eu taco fogo no livro

Mas a palavra sagrada salva

Não precisamos correr

Mas só vamos perceber 

Que fomos rápido demais 

Quando nos perder 

Estamos achando que temos tempo

E só vamos ver que gastamos tempo

Quando entendermos que nada é eterno 

Aceitar o fim sem fantasiar a morte de terno 

A dor e a solidão tem algo de terno

A trata não é com o mundo 

É um negócio interno 

Para que lutar 

Para que perder vidas 

Para que forçar 

Se uma hora todos 

Estarão sem saída 

Vivendo e aprendendo 

Aprendendo e vivendo 

Apenas sobrevivendo

Os preços aumentando 

Dois itens no caixa 

E o dinheiro acabando

Fome passando 

E todos estão partindo 

E só agora estamos nos arrependendo 

E só quando tudo se perde 

É então que nos arrependemos