Procura-se a sinceridade

Maiza Chagas

 

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, da madrugada, de pássaros, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa.

Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar.

Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos. Que se comova quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância.

Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que nos chame de amigo, para se ter consciência de que ainda se vive.

D. A

  • Autor: Maiza Chagas (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de setembro de 2021 22:01
  • Comentário do autor sobre o poema: Este POEMA faz parte de uma época bem bonita na minha vida. Meu tempo de namoro. Meu esposo e eu costumávamos escrever cartas um para o outro. E qdo ele lia algum poema que gostasse ele escrevia pra mim. Ele não é o autor desse poema, e hoje pesquisando na Internet encontrei esse poema e estou compartilhando ele com vcs. Tbm não tinha o nome do autor. Espero que gostem.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 24
Comentários +

Comentários2

  • Shmuel

    Lindo este texto, Maiza! Trata-se de um poema do mestre inesquecível, Vinícius de Moraes.
    Abraços!

  • Maximiliano Skol

    Eu tinha de cor esse poema quando me foi fácil decorá-lo ao ouvi-lo declamado na voz incomparável do Ramos Calhelha, de tão sublime se encontra expressa a angústia do autor por um grande e sincero amigo.
    Você tem ótima percepção do belo.
    Beijos.



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