Outra vez me pego a planejar, sem saber se realmente é necessário fazer planos.

A necessidade de pensar e sonhar, voar pelo mundo das emoções ainda é um hábito que permanece em mim.

Sou uma mulher que sente saudades da menina, fui uma menina que aspirava ser uma mulher.

Passei pela vida, me encantando com o fantástico mundo dos sonhos, para fugir do pesadelo de viver no mundo real. Talvez a demagogia de alguns poucos, que com hipocrisia me liberaram seus sorrisos, são a causa do meu cansaço e da minha falta de crença na mudança humana.

Não posso afirmar se confio nos seres humanos, eles não me transmitem a confiança necessária para que eu possa dividir minhas divagações, meus amores, meus encantos, meus sonhos.

Tudo parece tão fluído em minha mente, mas não posso expor, preciso calar-me.

Queria não mais sentir essa angústia que carrego no peito. Queria correr e deixar essas aflições marcadas apenas no rastro que se forma atrás de mim.

Busquei incansavelmente por aplausos, mas as críticas sempre se sobressaem. Tento ser forte para que minha fraqueza não desperte em mim a vontade de derramar as lágrimas que acalento.

Essa armadura que criei ao meu redor deveria ser mais resistente, pensei que estivesse protegida, pensei que o tempo tivesse amadurecido os sentimentos da menina, e todos os tormentos não mais se explodiram na mulher.

Preenchi meu mundo com enganos, frustrações e medos. Criei uma personagem que agora nem eu sei quem é.

Vivenciei delírios e devaneios, na busca de um sonho que pensava ser possível, e descobri hoje cheia de culpas e lamentos que nem todo sonho é possível, pois não vivemos no amanhã e nem no ontem. Temos simplesmente o hoje como juiz, para decidir nossa vida.

 

Ligia Alves