Pedro Trajano de Araujo

Não marcamos a hora para nos despedir

Não marcamos a hora para nos despedir.

Foi tudo tão rápido... como as gotas de orvalho se desfazendo no solo ao calor do sol...

Sua passagem entre nós foi abreviada, eu jurava que teríamos décadas pela frente, que você sempre estaria aqui... nos abraçaríamos sempre que decidíssemos nos abraçar, não haveria limite de tempo para nós, o eu te amo ao alcance de nossas escolhas, havia tantos planos para os próximos anos...

Não marcamos a hora para nos despedir.

Você nessa vida foi como um carro em pista de teste, veloz, intenso e breve.

Olho no banco do passageiro e não vejo mais você, mas continua tudo em alta velocidade, eu queria frear, parar este veículo chamado vida por um breve instante, voltar para te buscar e seguirmos juntos a nossa jornada, mas não dá, achei que sempre seria o motorista, no entanto descobri que certas circunstâncias nos roubam a direção, mudando a rota sem nos avisar, nos obrigando a continuar.

Não marcamos a hora para nos despedir.

Quando percebi que me deixou, gritei, mas você já estava tão distante que nem me ouviu.

A dor sempre é maior por aqueles que partem cedo, que tinham tanto para fazer e muitos anos para estar aqui. O Covid, a variante Delta, a nova cepa... tanto faz, trate-se de um único ceifador de vidas, lados iguais de um mesmo triângulo, olhando por qualquer ângulo só vejo o vazio deixado por sua ausência... tenho olhado para este vazio com frequência...

Não marcamos a hora para nos despedir.

Ouço dos próximos e até de estranhos que este outro lugar para aonde você foi é melhor. Como pode ser? Se eu estou aqui e você aí?

Não marcamos a hora para nos despedir.

Eu sei que você não está só, está junto de outros tantos milhões, de várias nações e idades, que deixaram familiares, amigos e amores sem se despedir, igual a você. Agora todos estão diante dos portões do céu, aguardando a hora de entrar, vendo muitos outros a chegar.

Quanto a você, ao entrar e se encontrar com Deus, diga a ele que eu fiquei, mas que já o perdoei.

Não marcamos a hora para nos despedir.

Pedro Trajano

24 julho 2021

Penápolis SP

  • Autor: Trajano (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de Julho de 2021 09:28
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 15
  • Usuário favorito deste poema: gritos_da_alma.


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