Domingo é dia de brique.
Troco vírus de computador
por traças de livros
e minha última palavra
por hieróglifos primitivos.
Negocio uma máquina de sonhos
precisando de reparos.
Recebo insetos na troca
de um rebanho de ácaros.
Troco uma jamanta de utopias
por um choque de realidade.
Vendo a fração ideal
que me cabe nesta cidade.
Empresto um espaço na janela
para ver uma manhã sorridente
e esperar com paciência
uma estrela cadente.
Compro e pago com versos
uma folha de papel em branco
e troco sonetos incompletos
por uma vaga de saltibamco.
Troco um mar de mentiras
por um pingo de verdade.
E aceito a solidão em troca
de uma falsa amizade.
Estudo permutas ainda
por LP's sem toca-discos,
por uma bicicleta antiga
e dois mínis obeliscos.
Vendo selos muito raros,
e gibis de coleção.
Dou um pé de bota na troca
por uma calota de caminhão.
Vendo um relógio quebrado
que marca horas passadas
e uma máquina de escrever
nunca alfabetizada.
Vendo um roteiro pro futuro
que jamais foi encenado.
Compro retalhos de esperanças
e pago o valor de mercado.
Troco o peso da idade
por um peso de papel
e um bilhete premiado
por um cão fiel.
Lembre! Aproveite! Indique!
Domingo é dia de brique.
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Autor:
Clavio Schutz (
Offline)
- Publicado: 23 de julho de 2021 15:24
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 9
Comentários1
"Troco um mar de mentiras / por um pingo de verdade. / E aceito a solidão em troca / de uma falsa amizade." fantástica permuta, poema com muita criatividade. Parabéns. Abs. (faz muitos anos que não ouço o termo Brique ou Brique Braque.)
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