umserqualquer

O encontro não encontrado.

É um buraco escuro, frio e aparentemente infinito
A queda em que me encontro, parece ser um salto livre, recheado de adrenalina, frio na barriga e medo, mas diferente de alguns tipos de saltos, neste não possuo para-quedas para livrar-me do encontro repentino com o chão.
Os braços procuram algo para se agarrar, mas em vão, pois sinto que nada ei de encontrar.
Os olhos rodopiam para ambos os lados, buscando qualquer foco de luz, mas noto que até ela fora engolida por aquela imensidão de breu.
A boca se abre, tentando ecoar um pedido de socorro, mas há um bloqueio nestas cordas vocais que me impedem de pronunciar qualquer dicção.
Por alguns momentos, nesta queda sem fim, penso que aquele exato segundo a seguir, pode ser o segundo em que me encontrarei com o solo...
E então na espera por este encontro, o desespero é intrinseco, e torço para que seja o encontro mais breve possível e de uma forma indolor...até que....
ainda permaneço na tal queda livre sem nenhum encontro.
Mas o que pode ter me trazido até este poço? Fui jogada aqui? se sim, quem fez isso? Ou pior, foi eu que me atirei neste abismo?
Às vezes, pareço estar dentro de uma ampulheta, onde cada pedaço do meu corpo tivesse sido esmigalhado até chegar ao estado de miúdos grãos de areia,
E nesse vai e vem sem fim, até que meu ultimo farelinho vá ao encontro dos outros, no lado oposto, o objeto é virado e começa tudo novamente...
imagina o quão inferno deve ser a vida dentro de um relógio de areia. Desolador.

Com todo esse infinito de queda, consigo encontrar um tempo para refletir se algum dia fui feliz.
Mesmo me encontrando em uma situação nada louvável, consigo sentir no porão da minha angústia a resposta para esta duvidosa pergunta.
Por alguma força, que absolutamente é indefinida, tal resposta dilacera os portões e consegue, por alguns minutos, me trazer um leve conforto de que, pode estar ruim agora, mas um dia eu já sorri. Eu sei que sim. E isso me basta.


A dependência total do outro, é ineficaz para o nosso desenvolvimento pessoal. Mas o que é o ''desenvolvimento pessoal''
Nos desenvolvemos como pessoas, vivendo e aprendendo com situações, boas e ruins, do nosso dia a dia. A partir do momento que saimos para o mundo, estamos propícios a desvendar que o mundo na verdade pode ser acolhedor, como também um massacrador. Trabalho, amigos, famila, amor, sentimentos, razões, afinidades, descréditos, decepções, clareza... são muitos, muitos sentimentos que um ser tem que lidar durante toda a sua trajetória de vida. Mas como podemos nos blindar da dor?
Talvez, não podemos. Talvez tenhamos que passar por ela, para no fim entendermos algo.


Amar alguém é ter aquele frio na barriga toda vez que você está de frente com a pessoa. É gagejar tentando explicar um determinado assunto, que nem você sabe o que está falando.
Amar alguem é dedicar-se, ambos, para que a relação seja frutífera e acrescentadora. É conversar por horas, sem se dar conta que o dia se findou.
É dar risadas quando algo de bom acontece... e de tão excepcional que aquele sentimento é, que às vezes é dar risada até quando algo ruim ocorre.
Amar é bom, que por alguns momentos, para algumas pessoas, se torna algo que não tem como explicar. Esse sentimento engajador deve envolver as partes que se relacionam, deve penetrar no mais íntimo e causar uma sensação de paz, equilibrio, prazer e felicidade... Ah, o amor...Ele deve acompanhar a felicidade. Mas até onde essa felicidade nos alcança? É uma felicidade generalizada? consegue envolver  o TODO de alguém? essa felicidade transborda o indivíduo em todas as partes e fases de sua vida? Não.
Ninguém traz a felicidade total para alguém. Infelizmente, não é algo que possamos estalar os dedos e simplesmente conseguir fazer com que o seu grande amor seja completamente feliz e realizado. Faltará lacunas a serem preenchidas. E como preenchê-las? infelizmente, nem sempre teremos todas as respostas. E por mais que nos  doamos a alguém para vê-lo realizado, você descobrirá que faltará algo para este alguém. Algo que você não conseguiu fazer... e quem poderá fazer?

Por fim, permaneço em minhas trevas. Essa queda sem fim, talvez encontrará o chão.
Ah, o chão...
Ou você me trará sensatez, paz e equilibrio novamente, ou você espatifará cada grão de areia meu por ai...e por ai serei levada ao vento...

  • Autor: umserqualquer (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 6 de Maio de 2020 10:11
  • Categoria: Conto
  • Visualizações: 12


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