VERSOS E REVERSOS

Já não bastava tu e ele

Agora és tu também

Me transforma em chama

E me tira da cama

Na madrugada tu vem e me atiça

És tu também o culpado

Por anos me fingi de surdo

E tu vem com o teu açoite chicotear o meu reverso

Acordar os meus versos

Nascer em mim a flor do tempo

Flor de jasmim flor do vento

Crescer em mim flor de maio

És tu verso que vem me atormentar

Dilacerar tudo que está guardado

És tu que quer me tirar dos meus inversos

Não me deixar em paz

Chacoalhar em mim a flor do espírito

O amor de espírito

Já que me acordaste então

Faça dessas noites as mais perfumadas

As mais inesquecíveis com estrelas e luares

Traga o rumor dos passos incensos e mirras

Pegue meus reversos e meus canteiros

E transforme todos em cantos de querubins

Flautins e clarins

Sim, são os três culpados

És tu poesia

És tu amor moreno

És tu verso que não dorme na sala

Que me busca em meu quarto

E me leva como um sonâmbulo na tua calçada

No teu córrego de água cristalina declarada

No teu sol azul e na tua lua prateada

Culpados os três que fazem brotar em mim

Mensagens de curumins

Estrelas mares luares e afins

Me entrego então com febre

A segredos e silêncios

Assim verso, do meu reverso faço tua vontade

Me transformo em flor de capim

E vou de encontro as palavras

Das rimas do orvalho e da chuva

E me debruço em travessas da tua rua

No teu rosto no teu mar que cresce em mim

Na madrugada com sabor de mel e cachaça

Me embriago num melaço e num roteiro sem fim...

Vlad Paganini