Um mundo enegrecido. Banhado em sangue carmesim, inundado por lágrimas taciturnas e cristalinas. 

Um mundo quebrado. Peças fragmentadas, princípios distorcidos e incompreensíveis. 

Sombras ao nosso redor, o tempo todo. Seres agindo brutalmente, como se nunca houvessem sido amados.

Sorrisos vagos, gestos significativos. Mentes confusas, pautas completas e difusas.

Compartilhamos de um mesmo mundo. Seus males, suas belezas. Éramos estranhos, agora somos algo incompreensível. 

Espero que nos vejamos em uma próxima vida. Se não dividirmos nossos mais profundos segredos, que possamos dividir nossos mais longínquos pensamentos. 

Se não partilharmos do nosso cotidiano, que possamos partilhar dessa conexão cabalística que desde os dias de hoje compartilhamos. Decifraremos perguntas e respostas através de nossos sonhos. Códigos psíquicos que ninguém será capaz de decodificar e elucidar, além de nós dois. Haverão luas que ninguém saberá apreciar tanto quanto nós. Sentimentos que ninguém sentirá como nós o fazemos. Nossos corpos enterrados sob a terra úmida e pesada, descansando em ilógica harmonia. Nossa fúria lancinante em brasa, queimando tudo ao nosso redor. A pele devorada pelo verme faminto, um cérebro carregado de memórias que nunca serão conhecidas, mas que nós teremos. Nós entendemos. Nós sentimos. Nós conhecemos. Nós vivemos. Nós nos conhecemos, sem nos conhecer. 

E é a você, meu amado e secreto conterrâneo, que dedico minhas memórias jamais vividas.