edson ovidio

RÉQUIEM

Morre-se um pouco a cada dia

por viver os enredos cotidianos

as picardias e engodos do tempo

enquanto lento passam os anos

entoa-se o santo ofício de morte

Rito cerimonial de cada dia

o dia vem e vai se embora

e então faz-se tarde bem fria

e a noite devora o que luzia

 

Morre-se um pouco a cada dia

quando o som da chuva lá fora

e o vento cantam uma elegia

cá dentro tudo então se cala

Na janela da mente só se espia

a escura tela de um dia triste

O dó da vida a que se expia

nada muda, nada vai embora

como se um dedo em riste

a frente de si mesmo persistisse 

como se um relógio repetisse

e agora, e agora, e agora

 

Morre-se um pouco a cada dia

Quando a mente é o desespero

O destempero do mau augúrio

de que nada parece dar certo

o embargo a todos os sonhos

Quando vem a luz d'aurora

o amargo acre de tolos bisonhos

pesadelos pelos quais se chora

 

Morre-se um pouco a cada dia

Amanhece-se com um lamento

e o ódio é a sua única liturgia

na órbita d´alma e do coração

o profundo lago da cruel apatia

a bílis jorra como única oração

deita-se  ao mundo absorto

todo o fel que vem à língua

de quem de si vive à míngua 

  • Autor: Ovídio (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 29 de Junho de 2021 10:39
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 21

Comentários2

  • Ednei Pereira Rodrigues

    Não tem ponto final ? significa que a poesia não terminou ainda...tomara que não termine nunca....muito bom!

    • edson ovidio

      minhas poesias nunca têm ponto final! Obrigado pelo elogio!

    • Jessé Ojuara

      Muito criativa a falta de ponto final.

      Gostei parabéns.



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